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Esta página dispõe de artigos e comunicações de Marcus André Vieira que trabalham o tema da clínica em Psicanálise, a partir de uma leitura lacaniana.
Total de 55 textos.
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Questões sobre o debate em curso na cultura com relação à explosão dos gêneros
O texto apresenta algumas das questões que o debate em curso na cultura com relação à explosão dos gêneros coloca a nós analistas. Sentimos o quanto estamos diante de uma catalogação instável e em proliferação descontrolada, mas como abordá-la clinicamente?
O afeto, a paixão e a ética na psicanálise
Costuma-se dar grande valor à emoção que sobe à cabeça. “É mais forte que eu”, ouço-me dizer ao enveredar por estranhos caminhos e infringir minhas próprias regras de conduta. Tudo em nome da crença de que o coração, com relação ao pensamento e à razão, seria emissário da verdade mais verdadeira.” A teoria lacaniana do afeto em sua incidência em uma análise, resume parte do seminário “Paixões em análise”.
Saúde mental para todos? Psicanálise para todos? Instituição para todos?
A loucura de cada um exige, muitas vezes, um espaço de exceção e uma lógica singular de abordagem. Tal realidade cobra da Psicanálise a invenção de dispositivos que lhe permitam fazer valer sua ética, seu discurso, nos diversos espaços em que se faz presente. Diante desse Outro da burocracia generalizada, somos instados, por um lado, a agir mais do que antes no plano político, e, ao mesmo tempo, a inventar, no plano da clínica. Um não vai sem o outro. A pergunta que se coloca então é: como?
Deixamos de lado o ensino da teoria e a análise pessoal como dois polos da formação para destacar a supervisão como uma interseção que contém.
O que nos interessa não é a formação profissional ou corporativa e sim a possibilidade de uma transmissão da psicanálise no âmbito da universidade pela via da clínica. A questão é: o que a psicanálise pode nos ensinar e o que da psicanálise pode-se ensinar?
De que maneira o analista pode contribuir com uma reflexão política com relação à violência?
O que ocorre em uma análise pode servir ao horizonte da cultura? É possível passar dos limites e voltar para contar a história? De que modo?
De corpo não é do corpo.
A ênfase do acontecimento, descontínuo, de corpo se conecta, por isso, com a continuidade de um “já lá” do de corpo. “De corpo” não é do corpo. O corpo de que se trata não é o que temos, o do espelho, com que nos levantamos e tomamos café. Não é o corpo que surge no estádio do espelho a partir do outro. É o corpo que só é em nossas dobras, ou “entre os órgãos”, mas que, por isso mesmo, está sempre ali em algum impreciso não-lugar corporal. Cabe então a pergunta: o acontecimento desse corpo se inclui na experiência?
“Descartado o amor romântico, ficamos, então, com o amor paixão.“
Se há um termo no ensino de Lacan que ensina sobre esta conjunção entre amor e desastre é o de devastação [ravage]. É o que este texto trata. A certeza de que se ama vem junto com a da angústia de amar. Dito de outro modo, não há amor sem sofrência. Como se vê, até o sertanejo universitário sabe que o mito da cara metade, do true love, é um ideal e que a realidade do amor é bem outra.
Sobre o final de análise
Este texto revisa algumas indicações de Lacan sobre o amor de transferência para, a seguir, examinar a hipótese de J. A. Miller sobre o final de uma análise como ganho de uma satisfação a mais. Finalmente propõe-se uma leitura do final de análise segundo Lacan que incluirá o limite do amor, situado como a palavra de amor, como ponto nodal de sua abertura à contingência e à invenção.
A teorização lacaniana do “semblante”, ou aparência [semblant] com relação ao teatro dos sexos.
Pode ser lido como uma retomada mais diretamente clínica do tema esboçado em um plano mais geral em “Sexo cortês”.
Tática, estratégia e política
Proponho abordar o tema do ato analítico e sua relação com a interpretação a partir da conhecida tripartição de Lacan, introduzida em seu texto A Direção do Tratamento, para delimitar o campo de ação do analista.
Quando a gente tem que falar de alguém sem saber bem qual é o problema, acontece na clínica, não é, o que fazer?
Tem sempre um ponto cego e a gente não sabe bem onde está ou até mesmo o que é. É outro nome para o que chamamos sujeito, um ponto cego na narrativa. E a coisa se complica quando em instituição estamos diante de uma diversidade de relatos e narrativas mais ou menos articuladas. Com relação ao sujeito em uma experiência assim, Lacan destaca que a gente tende a seguir dois caminhos, o que ele chama de análogo e outro de catálogo.
Quem foi Arthur Bispo do Rosario?
Artista? Louco? Ou Jesus Cristo, tal como ele se dizia, guiado por seu delírio?
Existe uma clínica que não seja da linguagem?
O artigo procura situar o campo de intervenção dos profissionais que lidam com a linguagem. Para tanto, assinala-se os perigos da concepção dualista, afastando o risco de demarcar a intervenção destes profissionais como medida paliativa para os efeitos do que ocorreria no somático. Localizando o que não funciona sob o termo furo, cuja articulação com a fala constituiria o campo da psicanálise, utilizamos um fragmento clínico para demonstrar não sua (impossível) eliminação, mas o trabalho que se pode visar tendo-o como norte.
Modos de tratamento do corpo na ciência e na psicanálise
Desenvolvemos algumas indicações de Jacques Lacan em um de seus últimos seminários, em que valoriza a topologia do furo, utilizando-as como chave de leitura para retomar as últimas elaborações freudianas acerca do dualismo pulsional. A partir daí buscamos abordar o modo de tratamento do corpo próprio da psicanálise, distinguindo-o do corpo da ciência. Finalmente exploramos algumas consequências destes desenvolvimentos no que concerne a determinados pontos que parecem desafiar a clínica analítica.
“O que as psicoses ensinam à clínica da neurose?”
Talvez possamos nos perguntar hoje: “O que as invenções esquizofrênicas ensinam sobre o tema da invenção em geral?” E mais, “Podem as invenções da psicose contribuir para decifrar a política de hoje – quando o Outro é inconsistente como o do esquizofrênico?”
É bem verdade que o corpo parece colocado fora de cena, estendido no divã. Será mesmo?
Não é possível apagar o corpo, nem com o uso do divã, nem mesmo nos atendimentos online. Tirar seu protagonismo não é eliminá-lo, ao contrário, perde-se o corpo de todo dia, o que se vê no espelho a cada manhã, mas ganha-se a presença do que somos para além de nossas formas.
Sobre o diagnóstico na psicanálise
Vamos partir da seguinte afirmação: o diagnóstico é um problema para o psicanalista. Decidir, seja nas entrevistas preliminares, seja ao longo do tratamento, se estamos diante de um obsessivo, de um perverso ou de um psicótico, constitui uma árdua tarefa. Entretanto, com esta afirmação quero dizer, sobretudo, que o diagnóstico é um problema porque ele é, em sua essência, contraditório com a análise e que esta é a razão da dificuldade.
É deixar-se surpreender
O sinthoma se reitera em uma vizinhança nada rígida. Não é um regime de alteridade consistente, mas daquilo que se pressente. É preciso se deslocar para se manter nela. Não é necessariamente mover-se na cidade, mesmo se cada vez mais nossa política o exige. Pode ser deixar-se deslocar por um vaga-lume, uma fala, um odor.
Nesta versão acrescentei o tema “ensino” a pedido de Bernardino Horne
(que constitui o ponto “V”).
“Todo mundo é louco, quer dizer, delirante”
Em que ponto estamos hoje com relação ao que essa frase introduz de reformulação de nossa prática e política?
Assumimos que a devastação é índice de uma posição, um modo de estar com relação ao gozo do corpo. Dito de outro modo, a devastação é “não sem” Outro. Mas qual o Outro da devastação?
Reproduz texto “A letra e o elã”, mas acrescenta uma introdução à reflexão de Lacan sobre a ética e psicanálise além do exame da relação estabelecida por ele entre ética e paixão.
A hipermodernidade de Jacques Lacan
O texto tenta localizar a incidência do discurso científico como agente constituinte do consumismo tal como ele se configurou na contemporaneidade. Para dar fundamento a isso, veremos que, ao determinar um real estruturado matematicamente e, portanto, decifrável matematicamente, a ciência moderna se estabelece como discurso que não concebe limitações ao saber – posição perante o real designada por Lacan “foraclusão do sujeito”.
Verdade e real no sonho
Em tempos de pós-verdade, é fundamental interrogar essa relação entre o real do sonho e as experiências de verdade a que ele pode nos conduzir. Nesse sentido, três sonhos abordados por Lacan em seu ensino podem nos permitir vislumbrar três diferentes modos de relação entre verdade e real no sonho, que são igualmente diferentes aspectos que o inconsciente freudiano assume para Lacan em seu ensino.
Leitura de uma lição do Seminário 21 de J. Lacan.
O dispositivo analítico inventado por Freud dispõe uma lógica coletiva própria? Em outros termos, a prática de uma análise supõe que as relações estabelecidas entre o analisante e as formas de alteridade por ele encontradas em sua análise encerram um modo original de laço?
E depois do passe?
Que dizer das muitas incidências em minha vida da conclusão de meu percurso analítico, no sentido em que usamos o termo passe? Como ficaram as coisas depois desse final? Vou apoiar-me na distinção entre três planos que costumamos conjugar para delimitar os efeitos de uma análise: o epistêmico, o clínico e o político. Dito de outra forma, em outros termos, quero declinar os efeitos dessa conclusão em três aspectos: o da relação com o saber, com o fazer e com a alteridade.
Apresentação e conclusão do livro Caminhos de estabilização nas psicoses
“O que é levar uma vida estável? Como esta estabilidade incluiria os transtornos que dão vida a uma história? Uma estabilização pode ser um objetivo digno para o tratamento de alguém sujeito às catástrofes da loucura?”.
Falar é um gesto?
Do ponto de vista mecânico, falar é comprimir o diafragma para fazer o ar passar pelas cordas vocais, propagando ondas sonoras no ambiente. Para nós, é, ao mesmo tempo, fazer com que todo o mundo de coisas desconexas que nos habita ganhe encadeamento e sequência dentro de padrões culturais pré-definidos. Nos termos de Lacan, das “trevas das significações inacabadas” em nós, virão pedaços de experiências que buscarão seus caminhos pelos “desfiladeiros” do “cristal da língua” e encontrarão seu lugar e tradução na “cadeia significante”.
do fútil ao fato
A discussão desenvolveu-se segundo uma orientação bem definida: “Fazer análise” hoje é, por um lado, não abrir mão de certos princípios e, por outro, fazer valer seu lugar no Outro de nossos tempos. Dois nomes próprios são, aqui, fundamentais: Jacques Alain Miller e Graciela Brodsky
Interpretação e psicose
O dizer da análise, na medida em que é eficaz, realiza o apofântico, que por sua simples ex-sistência, distingue-se da proposição. Assim é que coloca em seu lugar a função proposicional, posto que, como penso haver mostrado, ela nos dá o único apoio que supre o ab-senso da relação sexual. Esse dizer renomeia-se aí pelo embaraço que deixam transparecer [trahissent] campos tão dispersos [éparpillés] quanto o oráculo e o fora-do-discurso da psicose, através do empréstimo que lhes faz do termo interpretação.
a função do objeto a partir da retomada lacaniana da teorização do luto por Freud.
Delimitam-se, assim, as bases de uma teoria lacaniana da perda, localizando a importância do objeto a e destacando-se sua função de causa do desejo. Configura-se o lugar da causa como furo, sempre extrínseco à quaisquer redes de causalidade que se possa elaborar, de modo a abordar a dinâmica da vida com relação à localização dos furos no corpo e sua relação com o infinito.
Montagem corporal a partir de um objeto-resto com o programa “Latinha velha“
Não é porque as pessoas só querem consumir que o mundo está desorientado. O mundo está desorientado e, por isso, as pessoas só querem consumir. Nesse universo sem pai, os objetos são fundamentais. A montagem dos objetos passa a ser fundamental. Mas no imenso mar de objetos descartáveis alguns são diferentes, e eles é que nos interessam. São eles que sustentam a essencialidade da pessoa.
Este texto trabalha a leitura lacaniana do livro “O arrebatamento de Lol V. Stein” de Marguerite Duras.
Sobre as entradas em análise
Para buscar um terreno menos enganoso e não superpor ingenuamente o início de uma análise ao fato de que os encontros começaram Lacan, sabemos, escolheu a expressão “entrada em análise”. Mas quando entramos? Seguindo firme com a ideia de que na análise o que se conta sobre como fomos afetados vale tanto ou mais do que o acontecido, não é difícil perceber como os sentidos emprestados ao analista nos tocam antes mesmo de encontrá-lo pessoalmente.
Lendo Joyce com Lacan
Nessa leitura, descobriremos a arte de viver (e escrever) sem o apoio da crença no Pai, nosso termo para a simples fé estruturante de que alguém em algum lugar poderia explicar o caos desse mundo. E, isso, sem “cair fora” na passagem ao ato, nem dar-lhe as costas para recriá-lo pelo delírio.
Notas sobre o diagnóstico
Apresentação do livro “A transferência no campo da psicose: uma questão.” de Maria Silvia Hanna.
O acontecimento do corpo que transborda sua imagem
Lacan destaca, mais tardiamente em seu ensino, como uma análise nos leva não apenas ao acontecimento da verdade, mas ao acontecimento de corpo. Este acontecimento convoca um corpo que não é aquele com que nos deitamos e levantamos, mas daquele que transborda sua imagem, essa que encontramos no espelho, às vezes com sustos, mas que nos assegura que somos nós mesmos. Pois bem, uma análise é sempre também a certeza de que somos mais que nós mesmos e que isso conta.
Versão reduzida do texto “O acontecimento do inconsciente”
Posfácio do livro Mães
Muito do que Romildo formula neste momento conclusivo merece ser retomado para lhe dar a amplitude que merece. Foram escolhidos três pontos. O crocodilo e o pai, o desejo do analista e o relativismo ambiente, o desumano e o preconceito.
Notas sobre ato, acting out e ato analítico
Como situar o que ocorre após o ato sabendo que sua potência é em parte a da destruição das coordenadas subjetivas anteriores?
Em que interessa hoje para o psicólogo clínico ou o psicanalista a leitura dos relatos clínicos de Freud?
Para além de uma leitura obrigatória que deve constar em suas estantes, é preciso que algo que suscite sua prática esteja em jogo. Freud situa em seus relatos o que primeiramente é conceituado por Lacan como sujeito, puro furo, ponto onde culminam as linhas mestras de uma vida, o qual delimitaria o ponto extremo de singularidade.
Como dar destino ao real sem passar pelos poderes da representação?
Disso que o romance Edípico é paradigma? Dito ainda de outro modo: pode-se dar lugar estável ao gozo sem referência ao sujeito?
Relato de um fragmento de passe
Este texto apresenta um testemunho de passe, o relato de um fragmento da análise no autor, em que se visa o ponto em que a análise contou com elementos de linguagem fora do sentido para seu desfecho. Com este fim o autor parte da oposição entre as imagens que se apoiam nos significados compartilhados e naquelas que incluem o que a eles escapa. Destas últimas serão destacadas aquelas relacionadas ao modo de apreensão da relação do autor com seu pai em análise, por outro, as trazidas por um hai-cai de Bashô.
Sobre a trilogia das paixões: amor, ódio e ignorância
Lacan introduz as paixões do ser, amor, ódio e ignorância, para retomar a transferência a partir da sua trilogia RSI e da referência ao papel fundamental do simbólico no tratamento analítico. Parece-me então uma boa porta de entrada para abordar estas paixões a seguinte questão: porquê três paixões fundamentais e não duas? Deve causar alguma surpresa, o fato que a dualidade freudiana seja deslocada para uma trilogia onde a ignorância se situa exatamente no mesmo nível que o par freudiano.
Sobre o sujeito do insconciente e a presença do objeto da psicanálise
O sujeito que opera no discurso psicanalítico é o sujeito advindo como efeito do discurso da ciência, cuja operação de literalização da natureza faz emergir o próprio sujeito, mas como elemento foracluído de sua operação. Quando se trata do real, a linguagem não é capaz de recobri-lo, há sempre um resto, com o qual Lacan escreverá o objeto a, suporte da presença do sujeito no mundo que define a experiência psicanalítica como uma prática que transcende os limites da lógica significante.
A que título o psicanalista teria algo a dizer sobre o trauma?
Ele não costuma estar junto da equipe de assistência, não presta socorro imediato, ao menos não em sua figura tradicional. Seu papel está condicionado à premissa de que há em qualquer trauma um “fator subjetivo” ineliminável. É preciso contar que, independentemente do que terá ocorrido, algo singular precisará entrar sempre em ação para que se possa definir um trauma, já que nem todos os expostos à mesma situação serão traumatizados…
O que dizem os gestos de uma análise? O que dizem sobre o que é “fazer análise”? Sobre o que é uma análise?
O quotidiano é feito de uma multidão de gestos. Não se trata apenas de apreender o que os condiciona, mas o que dizem de nossa existência no mundo. O que dizem de nós? Nossa a proposta é mergulhar essa interrogação sobre os gestos em uma prática em um campo específico.
Bem-vindos aos paradoxos de uma presença que não é, mas ainda assim é.
É a presença como aquela que sustenta a existência, nos ditos do analisante, não de um indizível, mas sim da possibilidade de um dizer “a mais”. É contraintuitivo, mas assim é nosso trabalho, o de uma presença que se articula “ao que se diz”, como seu não-dito e que, apesar de ser articulada “ao que não se diz”, ainda assim é alguma coisa.
Seria possível forjar para si um lugar no Outro que se sustente e que se possa reconhecer mesmo fora do sentido?
Este texto dialoga sobre as possibilidades diante do esvaziamento da ideia de um Outro social estável e da presença cada vez mais marcante de Outras formas de enlace, enganche, amarração, de ça tient.
Delimita-se a leitura, emprendida por Jacques Lacan, do conceito freudiano de realidade psíquica, com ênfase na radicalidade do desamparo humano na teoria psicanalítica assim como de sua dimensão funcional na experiência de uma análise.
Com base no desamparo, propõe-se a realidade como subjetivação da dimensão significante e da pulsão como resto operatório da dimensão simbólica.
De que rimos?
Humor é coisa grande. Neste universo quase sem fim, Lacan, em seu quinto seminário, entra cortando: uma coisa é o cômico, outra é o chiste.
O que a psicanálise pode propor como uma “Política do sintoma”?
A abordagem dos sintomas a partir da psicanálise podem ser a de gozos que se articulam a um espaço de abertura na rede de acontecimentos de uma vida. Sem mais uma estrutura clara e uma chave única para o saber por meio do pai, os gozos vão se produzindo localmente, como numa galáxia que cresce e se expande mais como fractal do que como flecha. Os sintomas, aquilo que passamos a chamar de transtorno, deixam de ser um mal e passam a ser um modo de viver.
Proposições lacanianas sobre o objeto a que me pareceram premissas essenciais para abordagem da voz – sua apresentação de mais difícil apreensão e a menos explicitamente delimitada
Várias são as ferramentas conceituais exploradas por Lacan para lidar com este real fisgado pelo significante. Uma delas é assumir que ele pode se apresentar em meio ao material inconsciente como um objeto. Neste caso, será um objeto muito especial, o objeto “a”. É o que tentarei a seguir, a partir de minha análise, atravessada de ponta a ponta pela manifestação da presença do Outro como voz.
O binarismo precisa do falo para se manter?
As diferenças, os pares de opostos da linguagem é difícil imaginar que se pode estar na cultura, em um laço social com o mínimo de coesão e coerência se a gente não tem de vez em quando isso, esse: “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. Essa é a questão, a situação que a gente está encontrando.
O título que nos reúne desafia a localizar o que justifica a interpretação psicanalítica em nossos dias.
Parto do que me parece mais seguro: nossa interpretação não tem como objetivo produzir sentido, mesmo se o produz. Se inscreve na perspectiva do real. A interpretação, diz Lacan, visa o gozo.
Estabilização, sinthoma e invenção
Apresenta-se o livro de Temple Grandin e dele são examinadas algumas teses especificamente relacionadas à estabilização obtida pela autora com base em um uso peculiar do brete (máquina para imobilização de gado). O artigo aproxima, a seguir, este uso da teorização lacaniana do “sinthoma”, com base comentário de J. A. Miller deste conceito e de suas relações com o que a cultura denomina “invenção”.