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Esta página dispõe de artigos e comunicações de Marcus André Vieira que trabalham temáticas da política lacaniana.
Total de 51 textos.
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Apresentação do projeto de atendimento psicanalítico na comunidade da Maré chamado “Digaí-Maré” aproximando-o do que J. A. Miller definiu como “ação lacaniana”.
“O que poderia, juntamente com o ato analítico tal como Lacan o definiu, ganhar lugar como ação psicanalítica, como ação lacaniana, que pudesse propiciar, deste ato, suas consequências na sociedade?”
Prefácio do livro de Eric Laurent “A batalha do autismo: da clínica à política”
Nossa singularidade reside na maneira como define-se a junção entre este gozo que nos habita e as vias coletivas de seu escoamento. Para cada um, este cruzamento é único e distinto e mantém-se às custas de um trabalho contínuo. O autista realiza este trabalho com pedra lascada e barro fofo. Está em exterioridade com relação ao coletivo e lida com ele na estranheza de um marciano.
O acaso é a felicidade
Abertura do XVII Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, Psicanálise e Felicidade, Rio de Janeiro, 2008. Tal como Lacan enuncia em Televisão, não é tanto a felicidade é o que acontece por acaso, em um acaso. Para nós, o acaso é a felicidade. Como diz a letra dos Titãs, que nestes dias de autoria incerta, já vi ser creditada a Borges, “O acaso vai me proteger”. Como? Para eles basta “andar distraído”. E para nós?
O artigo explora, a partir das coordenadas de leitura lacanianas, de que modo os textos de Freud e de MV Bill situam o encontro do sujeito com o objeto a como o de uma abertura.
Dele brota a possibilidade de que a localização disso que até então se situava em exterioridade com relação ao ego possa reescrever um destino.
Resto.
O lixo delimita, sobretudo, um real ativo, ingrediente essencial na dança das vontades que agita os homens por acrescentar-lhe o lastro do impossível.
Uma análise tem algo de faxina. Esbarra sempre com o conhecido sentimento de todo aquele que arruma sua casa: “tenho coisas demais aqui”. Restringir-se ao essencial, contudo, não dissipa a estranheza, pois o mais íntimo objeto nunca é singular o bastante. Não é preciso, assim, buscar jacarés sob a cama para verificar o célebre dito freudiano: “O eu não é mais senhor em sua morada”. Basta perceber o quanto nossas posses são, de fato, do Outro.
Abertura XXII Encontro Brasileiro do Campo Freudiano – A QUEDA DO FALOCENTRISMO
Apresentação do livro do X Encontro Brasileiro do Campo Freudiano sobre os circuitos do desejo
Nas lacunas do discurso e nos orifícios do corpo, Freud encontrou o desejo. Descobriu-lhe a força até mesmo em seus estados mais quotidianos, sufocado pelo ideal ou oculto pela renúncia. Desvela-se então como o desejo habita a dança das vontades que agita os homens”. Apresentação do livro do X Encontro Brasileiro do Campo Freudiano: os circuitos do desejo na vida e na análise
Preliminares lacanianas ao trabalho com grupos.
Apresentamos, aqui, um esforço de formalização a partir do trabalho com grupos no Projeto DIGAÍ – Maré, desenvolvido pelo ICP juntamente com a EBP-Rio. O trabalho teve início em março de 2005, graças à parceria com o CEASM – Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré, ONG instalada na Maré desde 1997, que se dedica a projetos nas áreas de educação, cultura, trabalho, comunicação e memória.
Como dar lugar à extimidade do analista, que é a do seu objeto, sem poder se apoiar na crença partilhada de que existem coisas sagradas, fora do alcance?
É neste contexto que J. A. Miller introduz a expressão “ação lacaniana”, como aquilo que responderia a essa dificuldade ao dar consequências para o ato analítico no plano macro da sociedade.
Uma experiência de supervisão em enfermagem
O grupo de enfermeiras reúne-se para discutir os casos de pacientes considerados de difícil manejo, elaborando uma escuta orientada pela psicanálise em direção à fala do paciente. Há uma estratégia explícita de mudar o olhar da enfermeira sobre o doente mental, na medida em que é o sujeito que se apresenta através de sua fala e não mais um conceito diagnóstico.
Encerramento do XVI Encontro Brasileiro do Campo Freudiano – Os Nomes do Amor.
Nessa situação inesperada, que me conduz a um lugar de encerramento sem objeto no futuro, quase que pura abertura, me permita destacar como é possível, exatamente como tantos puderam neste encontro, deste ponto de pura abertura, extrair uma certeza.
Breve abordagem da formação do analista destacando a importância do dispositivo do passe.
Prefácio para o livro de Mirta Zbrun “A formação do analista”.
“A psicanálise muda. É um fato”, afirma J. A. Miller. E a Escola?
Sobre o tema da medicação
Proponho a vocês, primeiramente, algumas reflexões sobre as demandas que mobilizam os ambulatórios e sobre o tema da medicação. Em seguida tentarei esboçar algumas considerações de ordem prática, com um “decálogo da prescrição”.
Comentário da apresentação “O corpo entre identidade e identificação” de Igor Mello, Kayla Soares e Jamai Cana, pelo coletivo negro de psicologia Neusa Santos.
A fala de vocês, poética e precisa ao mesmo tempo, traz um diagnóstico concreto e uma proposta de ação (apoiada também no texto de Freud, sobretudo o Futuro de uma ilusão). O diagnóstico é o do pacto da branquitude que se define como uma ilusão: a de uma humanidade natural para alguns corpos, sem que se perceba a desumanização violenta para o resto deles. A proposta é a do encantamento do mundo, resgatando-se a possibilidade de iludir-se, mas de outro modo.
Por ocasião da preparação do X Congresso da AMP, ocorrido no Rio em abril de 2016, do qual Marcus André Vieira foi o Diretor, Nohemi Brown o entrevistou no contexto da Ação Dobradiça.
Entrevista com Marcus André Vieira por Yolanda Vilela sobre os cinquenta anos dos Escritos de Lacan.
Entrevista com Marcus André Vieira e Romildo do Rego de Barros sobre o livro Ódio, Segregação e Gozo.
O coletivo que possibilitou essa publicação se propôs a tratar de temas relativos aos impasses da civilização – a questão da violência, da crueldade, da segregação, nas suas formas atuais- buscando articulá-los aos limites da clínica psicanalítica.
É preciso estabelecer uma dialética entre a condição subjetiva, concreta e a condição estrutural.
Não deixarmos de falar do exílio de cada um com relação ao Outro, ao encontro com o outro e, em um certo sentido, com relação ao próprio corpo, a si mesmo. Ao mesmo tempo, não podemos esquecer que existem situações concretas de exílio, de segregação e exclusão que precisam ser pensadas também.
Basta que a estranheza se faça presente para que seja impossível contentar-se com a polaridade amigo-inimigo, cidadão-favelado ou ainda morador-bandido.
Este texto comenta um dos parágrafos de “Função e Campo da fala e da linguagem na psicanálise”, de Jacques Lacan, na série de textos redigidos pelos psicanalistas da EBP a partir desta obra por ocasião dos cinquenta anos de seus Escritos.
O autor destaca a importância dada por Lacan à presença do analista na cidade, condição exigida para que a singularidade do discurso do analisante possa ser reconhecida pelo analista.
Sobre o racismo no Brasil e a psicanálise
Pode o Brasil encontrar um caminho para transformar seu racismo? Que a descolonização precisa ser pensada como um atravessamento dos binários, branco-preto e outros, rumo a outro modo de estar no mundo? Haveria alguma contribuição da psicanálise? Com que gambiarras feitas de nossos restos de identidade poderemos forjar, como propõe J. A. Miller, modos de identificação não segregativas?
Sobre o Sinthoma e o final de análise
Qual política está implicada pela experiência psicanalítica tal como ela se apresenta a partir do dispositivo do passe?
Sobre o “Não sem” na frase “A saúde para todos não sem a loucura de cada um”
O título do V Encontro Americano do Campo Freudiano (ENAPOL): “A saúde para todos não sem a loucura de cada um” propõe uma articulação peculiar entre universal e singular, definida pela expressão “não sem”. Gostaria de explorar o modo de relação que essa expressão introduz.
Pequeno flash do momento político da EBP com relação à AMP.
Informe redigido para o Conselho da Associação Mundial de Psicanálise por ocasião dos vinte anos da Escola Brasileira de Psicanálise.
O tema, aqui, não remete a nenhum fim específico, seja o fim da história ou da função paterna, mas apenas à vertigem, tantas vezes presente, de que nenhum de nossos parâmetros cotidianos para ação e orientação parece ainda valer.
Se a diferença entre privado e público se torna porosa, se nossos analisantes não têm mais a mesma relação com a intimidade que nos tempos de Lacan e se qualquer diferencial é tomado como singularidade, como imaginar que poderíamos trabalhar no segredo dos consultórios, buscando uma singularidade quase sagrada?
Sobre o discurso do analista e sua relação com o impossível
Este texto discute o discurso do analista e sua relação com o impossível a partir do que ressoou o testemunho de passe de Tania Abreu.
O que o analista tem a oferecer quando falamos de Psicanálise na cidade?
Este texto trabalha com a ideia de Lacan de analista santo. Como alguém que exerce a “descaridade”. “O santo, para que me compreendam, não faz caridade. Antes presta-se a bancar o dejeto: faz descaridade”. Partindo dessa posição do analista, o texto traz inúmeros personagens para jogar com essa concepção. Do lixão ao capitalismo ilimitado, como podemos pensar esse analista santo?
Conferência pronunciada na Primeira Vara da Família e Adolescência do Rio de janeiro a convite da equipe do juiz Siro Darlan.
Nada melhor que o termo do Profeta Gentileza: Capetalismo.
Basta acrescentar que em sua versão contemporânea ele absorve todos: as igrejas, os caridosos, os revoltosos e assim por diante. Nas franjas do social o capetalismo se encontra com o lixão de seus restos. Esses, que deserdamos, serão reabsorvidos, sabemos, pelo tráfico. Grande entreposto varejista, máquina acéfala, sem lei, nem mesmo, como gostaríamos de pensar, a de uma máfia cruel, a não ser a livre concorrência em sua versão terceiro mundista radical. Realmente, como dizia Tom Jobim, o Brasil não é para principiantes…
Antes de nos perguntarmos se haveria incompatibilidade entre psicanálise e política, que seja colocada a pergunta sobre o modo como ambas encontram dificuldades na grande feira globalizada onde vivemos.
Nossa subjetividade, ao menos na parte em que é articulada à nossa posição de consumidores do mercado globalizado, não tem nem comando, nem unidade o bastante. Ela funciona de outro modo e segundo uma articulação entre o individual, o coletivo e o singular que parece colocar em risco tanto a possibilidade da psicanálise quanto da política.
O título que nos reúne, O empobrecimento da clínica psiquiátrica, é decididamente ousado e politicamente definido. Seria apenas uma constatação? Não. Ele é uma tomada de posição: afirma, indica, critica.
O que chamar de uma política própria à psicanálise?
Como não falar de política? Especialmente quando o Brasil parece ter desvelado seu modo de aliar o pior do neoliberalismo com o compadrio branco colonialista?
Prefácio do livro Ódio, segregação e gozo.
Uma análise é uma investigação muito especial de si. Ela assume que as ocorrências da vida contam relativamente menos do que o modo como foram vividas. Apostar, assim, em uma causa subjetiva para o sintoma faz o interesse migrar do acontecido para o imaginado. Ganha lugar de destaque o que antes era quase nada: o fantasiado, o vivido por tabela, por ouvir dizer ou ainda por descuido.
Sobre uma política do Sinthoma
Qual política está implicada pela experiência psicanalítica tal como ela se apresenta a partir do dispositivo do passe?
Apresentamos, aqui, um esforço de formalização a partir do trabalho com grupos no Projeto Digaí-Maré.
Projeto desenvolvido pelo Instituto de Clínica Psicanalítica do Rio de Janeiro (ICP) juntamente com a Seção Rio da Escola Brasileira de Psicanálise (EBP-Rio). O trabalho teve início em março de 2005, graças à parceria com o CEASM – Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré, ONG instalada na Maré desde 1997, que se dedica a projetos nas áreas de educação, cultura, trabalho, comunicação e memória.
Abordaremos nossa própria visão, muitas vezes turva, sobre a realidade dos hospitais psiquiátricos no Brasil.
A reflexão que segue, poderia, com toda propriedade, tomar emprestado um título de José Saramago e batizar-se Ensaio sobre a cegueira. Ela se escora em um discurso que por vezes ofusca-se pelo ideal, da desospitalização. Visando uma nova realidade, esquece que a clínica muitas vezes é pesada, resistente e lastreia nossas pretensões com a presença maciça da impossibilidade.
Sobre as relações entre os pequenos grupos psicanalítcos, e o modo de estruturação diverso da IPA (International Psychoanalytical Association) e da AMP (Associação mundial de psicanálise).
Boas vindas e agradecimento na abertura do V Encontro Americano de Psicanálise de Orientação Lacaniana
Juntamente com Alicia Arenas, Marina Recalde, previamente à fala de abertura de Judith Miller.
Entrevista com Paula Pimenta sobre a relação entre o tema “A saúde para todos não sem a loucura de cada um”.
Efatiza o singular dentro do universal, com o tema “A saúde mental existe?“, que questiona a universalidade de uma proposição.
Discurso de apresentação na assembleia geral da Escola da Orientação Lacaniana de Buenos Aires por ocasião do desempenho das funções de diretor-geral da Escola Brasileira de Psicanálise.
De um lado o par “sintoma” e “delírio”, do outro, “saúde para todos” e “loucura de cada um”.
Abordando esses pares a partir da oposição entre singular e universal, vemos que há uma inversão. O sintoma, como lugar de um gozo singular se opõe, no primeiro caso, ao delírio, enquanto que é a loucura como o singular de cada um que será nossa aposta com relação ao universal da “saúde para todos”. O que muda?
Comunicação na mesa-redonda “Apresentação de pacientes”, nas XIIIas Jornadas Clínicas da EBP-Rio.
Haveria algo a dizer das ocupações do ponto de vista do psicanalista?
Notas de psicanálise, sexo e política.
Partes um e dois.
O que é falocentrismo? O que é falo? E porque falam em queda do patriarcado e do falocentrismo se por todo lado só há mais e mais gente falando grosso? A psicanálise é falocêntrica? Freud sim, Lacan não? Porque os psicanalistas são quase sempre de classe-média-branca-no-poder?
Teria, um psicanalista, algo a dizer para além de sua posição identitária, geralmente a dos brancos, classe média ou classe média alta?
Destaco alguns dos argumentos, pois creio que eles podem ajudar a delimitar o que seria uma contribuição propriamente psicanalítica ao debate.
Sobre a escola e seus membros
Lacan funda uma instituição de analistas em que não se sabe dizer o que é um analista. Dois textos, sobretudo, balizam e delimitam a proposta, chamada por Lacan Escola: o “Ato de fundação” e a “Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola”. Proponho, aqui, abordar o primeiro destes dois textos. Em apenas três páginas, tudo em um plano mais prático, Lacan traz indicações essenciais para delimitar a proposta de uma Escola no sentido que dá ao termo, assim como, especialmente, o que espera dos membros dessa comunidade.
“a constância própria do que podemos encontrar na experiência analítica é exatamente a contingência de que o real se inscreva.”
Quero apresentar a vocês o ponto em que essa orientação me parece vital hoje. Retomo, então, o momento em que Miller define o que é a orientação lacaniana, em “O Outro que não existe e seus comitês de ética”.