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Esta página disponibiliza artigos e comunicações do psicanalista Marcus André Vieira.
Total de 207 textos
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A ação lacaniana e o
Digaí-Maré
Com Ana Lúcia Lutterbach-Holck
Apresentação do projeto de atendimento psicanalítico na comunidade da Maré chamado “Digaí-Maré” aproximando-o do que J. A. Miller definiu como “ação lacaniana”.
“O que poderia, juntamente com o ato analítico tal como Lacan o definiu, ganhar lugar como ação psicanalítica, como ação lacaniana, que pudesse propiciar, deste ato, suas consequências na sociedade?”
Questões sobre o debate em curso na cultura com relação à explosão dos gêneros
O texto apresenta algumas das questões que o debate em curso na cultura com relação à explosão dos gêneros coloca a nós analistas. Sentimos o quanto estamos diante de uma catalogação instável e em proliferação descontrolada, mas como abordá-la clinicamente?
Prefácio à Psicopatologia Lacaniana II (Nosologia)
O livro trata do sofrimento humano. Busca apreendê-lo em suas sutilezas, complexidades e estranhezas, mesmo as mais terríveis. Seus autores impõem-se o desafio de lidar com o adoecer sem deixar de lidar igualmente com a experiência subjetiva deste adoecimento. Não deixam em nenhum momento de incluir na descrição dos fenômenos patológicos que apresentam, no modo de ordená-los e de compreendê-los, a maneira como a dor atinge quem sofre.
Depois de um breve apresentação sobre as entrevistas clínicas, o texto traz, com toda ironia, pequena cartilha da entrevista lacaniana.
O que a análise trouxe, em termos concretos, a meus dias? Em que mexeu com meu corpo?
Considero que ela lhe trouxe uma satisfação extra. Não apenas um gozo “a mais”, mas um gozo imprevisto ou, como diz G. Rosa, “o leite que a vaca não prometeu”, o gozo do sinthoma (com th) nos termos de Lacan.
O acaso é a felicidade
Abertura do XVII Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, Psicanálise e Felicidade, Rio de Janeiro, 2008. Tal como Lacan enuncia em Televisão, não é tanto a felicidade é o que acontece por acaso, em um acaso. Para nós, o acaso é a felicidade. Como diz a letra dos Titãs, que nestes dias de autoria incerta, já vi ser creditada a Borges, “O acaso vai me proteger”. Como? Para eles basta “andar distraído”. E para nós?
“Só pode um homem amar a partir de uma posição feminina?”
É possível viver uma paixão a partir do falo e da fantasia, mas que não seja por eles exclusivamente determinada? O que seria amar deste lugar sem lugar? E, finalmente, seria isso ainda amor e não puro abismo?
Sobre a teoria lacaniana da contemporaneidade
A teoria lacaniana da contemporaneidade não supõe uma ruptura com a modernidade e sim uma mudança de registro fundada na exacerbação de algo que já lá estava e em uma nova aliança entr e seus principais personagens. Por essa razão, somos levados a recusar o termo pós-modernidade. A contemporaneidade lacaniana é assim uma altamodernidade, ou como prefere Miller, uma hipermodernidade.
A inquietante estranheza, o estranho-familiar, o êxtimo
são algumas das traduções possíveis do Unheimlich de Freud.
Elas nos dão uma ideia do tratamento que Lacan dedica a este afeto, reservando a ele, como sabemos, um lugar de honra em seu Seminário A Angústia. Este texto investiga o ponto de torção entre o estranho e a angústia, com o objetivo de apreender em que medida os dois afetos se articulam.
Quando tudo que resiste a se definir ao modo “pão-pão, queijo-queijo” torna-se inimigo e tem que ser destruído, como ainda sermos difusores irônicos de estranheza, catadores de objetos estranhos?
É o espaço da estranheza e seus objetos que contam. Para isso, não basta procurar o fora de cena, mas sim o ponto em que a cena estremece, a desrealização da cena. É uma desrealização particular que nos interessa.
O afeto, a paixão e a ética na psicanálise
Costuma-se dar grande valor à emoção que sobe à cabeça. “É mais forte que eu”, ouço-me dizer ao enveredar por estranhos caminhos e infringir minhas próprias regras de conduta. Tudo em nome da crença de que o coração, com relação ao pensamento e à razão, seria emissário da verdade mais verdadeira.” A teoria lacaniana do afeto em sua incidência em uma análise, resume parte do seminário “Paixões em análise”.
Saúde mental para todos? Psicanálise para todos? Instituição para todos?
A loucura de cada um exige, muitas vezes, um espaço de exceção e uma lógica singular de abordagem. Tal realidade cobra da Psicanálise a invenção de dispositivos que lhe permitam fazer valer sua ética, seu discurso, nos diversos espaços em que se faz presente. Diante desse Outro da burocracia generalizada, somos instados, por um lado, a agir mais do que antes no plano político, e, ao mesmo tempo, a inventar, no plano da clínica. Um não vai sem o outro. A pergunta que se coloca então é: como?
A origem e o sintoma
(com Bruna Guarana e Luisa Moraes)
O presente artigo pretende abordar, por meio do caso “O Homem dos Ratos”, o caráter ficcional da neurose.
Partindo da proposição lacaniana de que a neurose nasce de um furo no saber soberano, o que se busca ressaltar é que, por mais que haja uma intensificação dos excessos e da falta de referências na contemporaneidade, a angústia e o sintoma já estavam presentes desde os tempos de Freud. Investigaremos o complexo de Édipo, fundador do mito de origem, lançando luz sobre o aspecto paradoxal da castração.
Notas sobre o último ensino de J. Lacan e a clínica psicanalítica
A multiplicidade, tão idealizada em nossos dias, torna-se apenas enxame, quando não guerra de tribos, se não estiver em relação com algum modo de coesão e coerência que lhe confira um mínimo de unidade. Então, mais que nunca, esse seminário é atual. Resta delimitar do que Lacan trata quando fala em Um.
O artigo explora, a partir das coordenadas de leitura lacanianas, de que modo os textos de Freud e de MV Bill situam o encontro do sujeito com o objeto a como o de uma abertura.
Dele brota a possibilidade de que a localização disso que até então se situava em exterioridade com relação ao ego possa reescrever um destino.
Resenha da tese de Doutorado de Nuria Malajovich: “Inventar o amor: um desafio na clínica das psicoses” .
“É vital que a falha onde mora o sujeito da psicanálise seja situada na fronteira do clínico e do político. Ali reside o analista. Nesses tempos em que somos cobertos com uma chuva de objetos de consumo, a fabricação de um saber-fazer com pedaços de real arrancados do Outro do gozo, que constitui a solução psicótica ressalta-se ainda mais preciosa”
Resto.
O lixo delimita, sobretudo, um real ativo, ingrediente essencial na dança das vontades que agita os homens por acrescentar-lhe o lastro do impossível.
Uma análise tem algo de faxina. Esbarra sempre com o conhecido sentimento de todo aquele que arruma sua casa: “tenho coisas demais aqui”. Restringir-se ao essencial, contudo, não dissipa a estranheza, pois o mais íntimo objeto nunca é singular o bastante. Não é preciso, assim, buscar jacarés sob a cama para verificar o célebre dito freudiano: “O eu não é mais senhor em sua morada”. Basta perceber o quanto nossas posses são, de fato, do Outro.
Abertura XXII Encontro Brasileiro do Campo Freudiano – A QUEDA DO FALOCENTRISMO
A supervisão
Com Ana Cristina Figueiredo
Deixamos de lado o ensino da teoria e a análise pessoal como dois polos da formação para destacar a supervisão como uma interseção que contém.
O que nos interessa não é a formação profissional ou corporativa e sim a possibilidade de uma transmissão da psicanálise no âmbito da universidade pela via da clínica. A questão é: o que a psicanálise pode nos ensinar e o que da psicanálise pode-se ensinar?
De que maneira o analista pode contribuir com uma reflexão política com relação à violência?
O que ocorre em uma análise pode servir ao horizonte da cultura? É possível passar dos limites e voltar para contar a história? De que modo?
Sobre interpretação e tradução.
Se apoia no conto “Meu tio Iauaretê” de G. Rosa para demonstrar a presença da voz no texto como paradigma da interpretação freudiana.
Apresentação do livro do X Encontro Brasileiro do Campo Freudiano sobre os circuitos do desejo
Nas lacunas do discurso e nos orifícios do corpo, Freud encontrou o desejo. Descobriu-lhe a força até mesmo em seus estados mais quotidianos, sufocado pelo ideal ou oculto pela renúncia. Desvela-se então como o desejo habita a dança das vontades que agita os homens”. Apresentação do livro do X Encontro Brasileiro do Campo Freudiano: os circuitos do desejo na vida e na análise
De corpo não é do corpo.
A ênfase do acontecimento, descontínuo, de corpo se conecta, por isso, com a continuidade de um “já lá” do de corpo. “De corpo” não é do corpo. O corpo de que se trata não é o que temos, o do espelho, com que nos levantamos e tomamos café. Não é o corpo que surge no estádio do espelho a partir do outro. É o corpo que só é em nossas dobras, ou “entre os órgãos”, mas que, por isso mesmo, está sempre ali em algum impreciso não-lugar corporal. Cabe então a pergunta: o acontecimento desse corpo se inclui na experiência?
Algo fora da horda
Com Lourenço Astua e Ondina Machado
Preliminares lacanianas ao trabalho com grupos.
Apresentamos, aqui, um esforço de formalização a partir do trabalho com grupos no Projeto DIGAÍ – Maré, desenvolvido pelo ICP juntamente com a EBP-Rio. O trabalho teve início em março de 2005, graças à parceria com o CEASM – Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré, ONG instalada na Maré desde 1997, que se dedica a projetos nas áreas de educação, cultura, trabalho, comunicação e memória.
O texto examina a relação do amor com a paixão, por um lado, e com o afeto, por outro
Acredito que poderemos, a partir daí, reunir elementos necessários para situar a pulsão com relação ao amor, o que não é explicitamente realizado por Lacan neste seminário, e que nos permitiria interrogar a sublimação.
“Descartado o amor romântico, ficamos, então, com o amor paixão.“
Se há um termo no ensino de Lacan que ensina sobre esta conjunção entre amor e desastre é o de devastação [ravage]. É o que este texto trata. A certeza de que se ama vem junto com a da angústia de amar. Dito de outro modo, não há amor sem sofrência. Como se vê, até o sertanejo universitário sabe que o mito da cara metade, do true love, é um ideal e que a realidade do amor é bem outra.
Sobre o final de análise
Este texto revisa algumas indicações de Lacan sobre o amor de transferência para, a seguir, examinar a hipótese de J. A. Miller sobre o final de uma análise como ganho de uma satisfação a mais. Finalmente propõe-se uma leitura do final de análise segundo Lacan que incluirá o limite do amor, situado como a palavra de amor, como ponto nodal de sua abertura à contingência e à invenção.
Prefácio do livro de Eric Laurent “A batalha do autismo: da clínica à política”
Nossa singularidade reside na maneira como define-se a junção entre este gozo que nos habita e as vias coletivas de seu escoamento. Para cada um, este cruzamento é único e distinto e mantém-se às custas de um trabalho contínuo. O autista realiza este trabalho com pedra lascada e barro fofo. Está em exterioridade com relação ao coletivo e lida com ele na estranheza de um marciano.
A teorização lacaniana do “semblante”, ou aparência [semblant] com relação ao teatro dos sexos.
Pode ser lido como uma retomada mais diretamente clínica do tema esboçado em um plano mais geral em “Sexo cortês”.
Tática, estratégia e política
Proponho abordar o tema do ato analítico e sua relação com a interpretação a partir da conhecida tripartição de Lacan, introduzida em seu texto A Direção do Tratamento, para delimitar o campo de ação do analista.
Prefácio do livro “Loucura e responsabilidade: Consentimento às Ficções Jurídicas”.
Este livro trata da loucura. O termo aponta, aqui, para aqueles que, mesmo dentro da razão, rompem com suas normas básicas, tomados, de alguma forma, pela experiência delirante. Como alguém pode ser tão lúcido e pensar de modo tão anormal? Como é possível ser tão seguro e tão “fora da curva”? São perguntas habitualmente feitas por quem se encontra pela primeira vez com esses sujeitos.
Quando a gente tem que falar de alguém sem saber bem qual é o problema, acontece na clínica, não é, o que fazer?
Tem sempre um ponto cego e a gente não sabe bem onde está ou até mesmo o que é. É outro nome para o que chamamos sujeito, um ponto cego na narrativa. E a coisa se complica quando em instituição estamos diante de uma diversidade de relatos e narrativas mais ou menos articuladas. Com relação ao sujeito em uma experiência assim, Lacan destaca que a gente tende a seguir dois caminhos, o que ele chama de análogo e outro de catálogo.
Sobre a relação do episódio “Be right here”, de Black Mirror com a Psicanálise
O episódio “Be right here” de Black Mirror, leva tão longe a proximidade de Martha e Ash, que temos a impressão de que não faz tanta diferença assim se é um robô ou se é uma pessoa, se é uma máquina ou não, a gente chega no limite do desconforto de pensar que talvez fosse melhor se fosse um robô, porque não? Ele é o amante ideal, o marido ideal, sempre à postos, inclusive nunca nega fogo na cama. Sobre esse episódio, o que dizer do ponto de vista do psicanalista?
Quem foi Arthur Bispo do Rosario?
Artista? Louco? Ou Jesus Cristo, tal como ele se dizia, guiado por seu delírio?
Prefácio do livro Uma Força Estranha que me leva a cantar: A clínica das psicoses entremeada por canções de Bianca Bruno.
Como dar lugar à extimidade do analista, que é a do seu objeto, sem poder se apoiar na crença partilhada de que existem coisas sagradas, fora do alcance?
É neste contexto que J. A. Miller introduz a expressão “ação lacaniana”, como aquilo que responderia a essa dificuldade ao dar consequências para o ato analítico no plano macro da sociedade.
Posfácio à Histórias clínicas (cinco casos paradigmáticos da clínica psicanalítica)
Este livro reúne histórias, mas, também, casos, pois, além de descreverem uma trajetória, contam um “causo”: o do encontro de cada um deles com o modo de intervenção de Freud.
Sobre a clínica e o nó borromeano no último ensino de J. Lacan
A psicanálise visa uma singularidade a tal ponto radical que escapa a toda apreensão universal. Sua prática é habitada por este paradoxo: na medida em que é clínica, precisa de categorias, mas orienta-se por um real que as dissolve. “Clínica Borromeana” é a expressão cunhada por J. A. Miller para resumir o modo como esse paradoxo se torna operatório a partir das indicações de Lacan em seu último ensino com relação ao nó borromeano.
“Extended play” do texto “O Homem dos lobos: A atualidade dos casos clínicos freudianos), com exemplos e esquemas não incluídos no texto publicado.
Existe uma clínica que não seja da linguagem?
O artigo procura situar o campo de intervenção dos profissionais que lidam com a linguagem. Para tanto, assinala-se os perigos da concepção dualista, afastando o risco de demarcar a intervenção destes profissionais como medida paliativa para os efeitos do que ocorreria no somático. Localizando o que não funciona sob o termo furo, cuja articulação com a fala constituiria o campo da psicanálise, utilizamos um fragmento clínico para demonstrar não sua (impossível) eliminação, mas o trabalho que se pode visar tendo-o como norte.
Após uma discussão sobre o status científico da psicanálise, o autor, com base nos trabalhos de J. Lacan, examina o valor da abordagem estrutural como método de construção e elaboração de casos.
Defende a idéia de que este método engendra, a partir do relato da história de um tratamento, a constituição de uma teoria cientificamente consistente. O modo de validação desta teoria, fundado por Freud no conceito de «construção», assim como suas implicações para a pesquisa em psicanálise são discutidos e ilustrados por um fragmento de caso clínico.
Modos de tratamento do corpo na ciência e na psicanálise
Desenvolvemos algumas indicações de Jacques Lacan em um de seus últimos seminários, em que valoriza a topologia do furo, utilizando-as como chave de leitura para retomar as últimas elaborações freudianas acerca do dualismo pulsional. A partir daí buscamos abordar o modo de tratamento do corpo próprio da psicanálise, distinguindo-o do corpo da ciência. Finalmente exploramos algumas consequências destes desenvolvimentos no que concerne a determinados pontos que parecem desafiar a clínica analítica.
“O que as psicoses ensinam à clínica da neurose?”
Talvez possamos nos perguntar hoje: “O que as invenções esquizofrênicas ensinam sobre o tema da invenção em geral?” E mais, “Podem as invenções da psicose contribuir para decifrar a política de hoje – quando o Outro é inconsistente como o do esquizofrênico?”
O tema, “ler Lacan”, parece um pouco assustador.
Não apenas pela reputada dificuldade do texto, mas, sobretudo – com relação ao que nos ocupará aqui – pela aparente necessidade de leituras complementares. Não menos célebre do que o estilo é o enxame de referências que parecem necessárias à decifração do texto.
Na trilha sonora de uma análise
Este texto apresenta o percurso de uma psicanálise dando ênfase no modo como os elementos recalcados de uma história puderam ser redescobertos e permitiram uma abertura ao novo, distanciando o autor da repetição baseada na certeza de um destino traçado. Ao mesmo tempo, o texto interroga a função da escrita em psicanálise e os conceitos de letra, objeto e sinthoma no ensino de Jacques Lacan.
“A interpretação deve introduzir no texto algo que subitamente torne possível a tradução.”
Tradução do quê? Numa análise tenta-se dizer uma singularidade que não cabe nas palavras. Como traduzi-la, então, no sentido de lhe dar um lugar no universal, de lhe fornecer um mínimo de legibilidade que permita ao analisante sustentá-la em sua vida?
Sobre angústia, trauma e fantasia
As relações entre angústia, trauma e fantasia a partir de fragmentos do “Analista de Bagé” de Luis Fernando Veríssimo. Uma hipótese é esboçada sobre a atualidade de uma dificuldade em recorrer à fantasia como esteio para o desejo, levando à angústia crescente. O caminho do riso seria a solução? Como?
Pensei em apresentar a vocês meu “lado mãe” e o modo como ele foi tratado em análise.
Sempre fui mais filho; com as dificuldades de praxe pude ser pai; mas me orgulho de ter podido sentir um pouco do que ouço no que me contam as mães. Quando falo em meu “lado mãe” quero me aproximar, neste universo, de outra coisa, de um desmedido do amor que responde por muitas dores e delícias do que costumamos chamar “maternidade”.
Uma análise, para Lacan, pode oferecer um destino novo para essa nossa base fora de esquadro. Contará para isso com o que o tumulto deixou como marcas. É possível trazê-lo para o campo do que somos desde que se possa fisgá-la em uma rede feita dessas marcas.
É bem verdade que o corpo parece colocado fora de cena, estendido no divã. Será mesmo?
Não é possível apagar o corpo, nem com o uso do divã, nem mesmo nos atendimentos online. Tirar seu protagonismo não é eliminá-lo, ao contrário, perde-se o corpo de todo dia, o que se vê no espelho a cada manhã, mas ganha-se a presença do que somos para além de nossas formas.
Sobre a noção de corte, a partir de uma leitura lacaniana.
Versão remanejada e aumentada do texto “Cortar”
Uma experiência de supervisão em enfermagem
O grupo de enfermeiras reúne-se para discutir os casos de pacientes considerados de difícil manejo, elaborando uma escuta orientada pela psicanálise em direção à fala do paciente. Há uma estratégia explícita de mudar o olhar da enfermeira sobre o doente mental, na medida em que é o sujeito que se apresenta através de sua fala e não mais um conceito diagnóstico.
Genealogia da expressão “psicose ordinária”
Expressão promovida por Jacques-Alain Miller, partindo da “clínica universal do delírio”, como “clínica irônica” em contraposição à clínica diferencial das psicoses.
Sobre o diagnóstico na psicanálise
Vamos partir da seguinte afirmação: o diagnóstico é um problema para o psicanalista. Decidir, seja nas entrevistas preliminares, seja ao longo do tratamento, se estamos diante de um obsessivo, de um perverso ou de um psicótico, constitui uma árdua tarefa. Entretanto, com esta afirmação quero dizer, sobretudo, que o diagnóstico é um problema porque ele é, em sua essência, contraditório com a análise e que esta é a razão da dificuldade.
Encerramento do XVI Encontro Brasileiro do Campo Freudiano – Os Nomes do Amor.
Nessa situação inesperada, que me conduz a um lugar de encerramento sem objeto no futuro, quase que pura abertura, me permita destacar como é possível, exatamente como tantos puderam neste encontro, deste ponto de pura abertura, extrair uma certeza.
Breve abordagem da formação do analista destacando a importância do dispositivo do passe.
Prefácio para o livro de Mirta Zbrun “A formação do analista”.
Que baliza ética é essa que a permite fazer com que a cura venha por acréscimo (e somente assim) e não que a cura seja seu objetivo primeiro?
Que medida é essa da psicanálise que a distingue das psicoterapias (que têm por medida o sentido, que em última instância é sempre terapêutico).
O psicanalista e a máquina.
Sempre há um imponderáel em toda decisão que ultrapassa os dados do probelma A decisão sempre transcende a situação, ela depende de um salto no escuro. Todos supõem que esse salto só poderá ser dado pelo humano. Será?
É deixar-se surpreender
O sinthoma se reitera em uma vizinhança nada rígida. Não é um regime de alteridade consistente, mas daquilo que se pressente. É preciso se deslocar para se manter nela. Não é necessariamente mover-se na cidade, mesmo se cada vez mais nossa política o exige. Pode ser deixar-se deslocar por um vaga-lume, uma fala, um odor.
Nesta versão acrescentei o tema “ensino” a pedido de Bernardino Horne
(que constitui o ponto “V”).
“Todo mundo é louco, quer dizer, delirante”
Em que ponto estamos hoje com relação ao que essa frase introduz de reformulação de nossa prática e política?
“A psicanálise muda. É um fato”, afirma J. A. Miller. E a Escola?
Sobre o tema da medicação
Proponho a vocês, primeiramente, algumas reflexões sobre as demandas que mobilizam os ambulatórios e sobre o tema da medicação. Em seguida tentarei esboçar algumas considerações de ordem prática, com um “decálogo da prescrição”.
Assumimos que a devastação é índice de uma posição, um modo de estar com relação ao gozo do corpo. Dito de outro modo, a devastação é “não sem” Outro. Mas qual o Outro da devastação?
O que pode orientar o tratamento e descortinar seu horizonte de conclusão realmente desvinculado do ideal?
Para nós, falar de felicidade em ruptura com o ideal é obrigação, caso contrário seremos apenas partidários de mais um discurso sobre o Bem e de mais uma normatização terapêutica. Abordar o tema a partir de nossas ferramentas clínicas evita este perigo. Ao mesmo tempo estaremos testando-as.
Reproduz texto “A letra e o elã”, mas acrescenta uma introdução à reflexão de Lacan sobre a ética e psicanálise além do exame da relação estabelecida por ele entre ética e paixão.
Quero abordar o ato analítico interrogando as diferenças entre online e offline a partir da tripartição, tática, estratégia e política.
Versão ampliada: “Entre o online e o offline”
Sobre padrões e as faltas de padrões na saúde mental
Passa-se, agora, definir a doença como entrave a uma função. Correlativamente, a Organização Mundial de Saúde surge como o lugar em que se deposita uma definição padrão de saúde, para a partir dela pautarmos nossas concepções de doenças. Ora, gostaria de propor, seguindo uma indicação de Jacques Alain Miller, que apesar disso, nosso campo, o da saúde mental, define-se pela falta de um padrão.
A hipermodernidade de Jacques Lacan
O texto tenta localizar a incidência do discurso científico como agente constituinte do consumismo tal como ele se configurou na contemporaneidade. Para dar fundamento a isso, veremos que, ao determinar um real estruturado matematicamente e, portanto, decifrável matematicamente, a ciência moderna se estabelece como discurso que não concebe limitações ao saber – posição perante o real designada por Lacan “foraclusão do sujeito”.
Sobre as consequências mais diretas no que diz respeito às relações entre a dor de existir e a tristeza.
O sintagma «dor de existir» é utilizado por Lacan em alguns momentos de seu ensino e, como acontece frequentemente, a leitura lacaniana desloca esta expressão de seu sentido habitual e situa-a em um novo campo discursivo.
Verdade e real no sonho
Em tempos de pós-verdade, é fundamental interrogar essa relação entre o real do sonho e as experiências de verdade a que ele pode nos conduzir. Nesse sentido, três sonhos abordados por Lacan em seu ensino podem nos permitir vislumbrar três diferentes modos de relação entre verdade e real no sonho, que são igualmente diferentes aspectos que o inconsciente freudiano assume para Lacan em seu ensino.
Leitura de uma lição do Seminário 21 de J. Lacan.
O dispositivo analítico inventado por Freud dispõe uma lógica coletiva própria? Em outros termos, a prática de uma análise supõe que as relações estabelecidas entre o analisante e as formas de alteridade por ele encontradas em sua análise encerram um modo original de laço?
E depois do passe?
Que dizer das muitas incidências em minha vida da conclusão de meu percurso analítico, no sentido em que usamos o termo passe? Como ficaram as coisas depois desse final? Vou apoiar-me na distinção entre três planos que costumamos conjugar para delimitar os efeitos de uma análise: o epistêmico, o clínico e o político. Dito de outra forma, em outros termos, quero declinar os efeitos dessa conclusão em três aspectos: o da relação com o saber, com o fazer e com a alteridade.
Comentário da apresentação “O corpo entre identidade e identificação” de Igor Mello, Kayla Soares e Jamai Cana, pelo coletivo negro de psicologia Neusa Santos.
A fala de vocês, poética e precisa ao mesmo tempo, traz um diagnóstico concreto e uma proposta de ação (apoiada também no texto de Freud, sobretudo o Futuro de uma ilusão). O diagnóstico é o do pacto da branquitude que se define como uma ilusão: a de uma humanidade natural para alguns corpos, sem que se perceba a desumanização violenta para o resto deles. A proposta é a do encantamento do mundo, resgatando-se a possibilidade de iludir-se, mas de outro modo.
Tentarei, neste trabalho, situar em que consistiria este debate sobre a ética da psicanálise a partir de sua articulação com o horizonte necessariamente sexual onde se desloca a psicanálise.
Para tanto, vou me apoiar nas noções de desejo e gozo, ressaltadas no texto freudiano por Lacan, que situam as coordenadas do campo de uma análise em sua vinculação fundamental com a ética.
psicanálise e psicoterapia
Novamente o analista de Bagé, de Luis Fernando Veríssimo é convocado, desta vez para esclarecer a diferença entre a intervenção psicoterapêutica, sempre presente em uma análise e o ato analítico, como sua operação essencial.
Versão reduzida: “Do online ao offline”
Quero abordar o ato analítico interrogando as diferenças entre online e offline a partir da tripartição, tática, estratégia e política.
Entrevista sobre as paixões contemporâneas por Lilian Monteiro para o Estado de Minas
Por ocasião da preparação do X Congresso da AMP, ocorrido no Rio em abril de 2016, do qual Marcus André Vieira foi o Diretor, Nohemi Brown o entrevistou no contexto da Ação Dobradiça.
Entrevista com Marcus André Vieira por Yolanda Vilela sobre os cinquenta anos dos Escritos de Lacan.
Entrevista com Marcus André Vieira e Romildo do Rego de Barros sobre o livro Ódio, Segregação e Gozo.
O coletivo que possibilitou essa publicação se propôs a tratar de temas relativos aos impasses da civilização – a questão da violência, da crueldade, da segregação, nas suas formas atuais- buscando articulá-los aos limites da clínica psicanalítica.
Pequena entrevista com Marcus André Vieira, por Carlos Augusto Nicéas sobre a expressão “o amor do real”.
Apresentação e conclusão do livro Caminhos de estabilização nas psicoses
“O que é levar uma vida estável? Como esta estabilidade incluiria os transtornos que dão vida a uma história? Uma estabilização pode ser um objetivo digno para o tratamento de alguém sujeito às catástrofes da loucura?”.
Nesse artigo, uma personagem é abordada. Ela surge do encontro de um diretor de cinema com uma mulher, Estamira.
Da personagem, nada de conclusões universais poderão ser extraídas, e, justamente por isso, sua figura se presta a nos ensinar sobre o que está em jogo para o psicótico quando é preciso passar para o universal e imediatamente inteligível algo do estranho e indizível de uma singularidade. A partir de algumas referências de Lacan, desenha-se qual poderá ser o parceiro a secretariar o psicótico em seu percurso do radical singular ao universal.
É preciso estabelecer uma dialética entre a condição subjetiva, concreta e a condição estrutural.
Não deixarmos de falar do exílio de cada um com relação ao Outro, ao encontro com o outro e, em um certo sentido, com relação ao próprio corpo, a si mesmo. Ao mesmo tempo, não podemos esquecer que existem situações concretas de exílio, de segregação e exclusão que precisam ser pensadas também.
Basta que a estranheza se faça presente para que seja impossível contentar-se com a polaridade amigo-inimigo, cidadão-favelado ou ainda morador-bandido.
Falar é um gesto?
Do ponto de vista mecânico, falar é comprimir o diafragma para fazer o ar passar pelas cordas vocais, propagando ondas sonoras no ambiente. Para nós, é, ao mesmo tempo, fazer com que todo o mundo de coisas desconexas que nos habita ganhe encadeamento e sequência dentro de padrões culturais pré-definidos. Nos termos de Lacan, das “trevas das significações inacabadas” em nós, virão pedaços de experiências que buscarão seus caminhos pelos “desfiladeiros” do “cristal da língua” e encontrarão seu lugar e tradução na “cadeia significante”.
do fútil ao fato
A discussão desenvolveu-se segundo uma orientação bem definida: “Fazer análise” hoje é, por um lado, não abrir mão de certos princípios e, por outro, fazer valer seu lugar no Outro de nossos tempos. Dois nomes próprios são, aqui, fundamentais: Jacques Alain Miller e Graciela Brodsky
O grande Outro
Buscando uma chave para o trajeto aqui proposto – psicose, instituição e psicanálise, decidi apoiar-me em um quarto termo, o Outro. Das inúmeras delimitações do outro, com maiúscula, o grande Outro, como costumamos dizer, empreendidas por Jacques Lacan, proponho a seguinte modulação: ‘aquele com quem se joga nossa partida crucial’. Ele é um parceiro, mas de uma partida essencial, decisiva.
Interpretação e psicose
O dizer da análise, na medida em que é eficaz, realiza o apofântico, que por sua simples ex-sistência, distingue-se da proposição. Assim é que coloca em seu lugar a função proposicional, posto que, como penso haver mostrado, ela nos dá o único apoio que supre o ab-senso da relação sexual. Esse dizer renomeia-se aí pelo embaraço que deixam transparecer [trahissent] campos tão dispersos [éparpillés] quanto o oráculo e o fora-do-discurso da psicose, através do empréstimo que lhes faz do termo interpretação.
a função do objeto a partir da retomada lacaniana da teorização do luto por Freud.
Delimitam-se, assim, as bases de uma teoria lacaniana da perda, localizando a importância do objeto a e destacando-se sua função de causa do desejo. Configura-se o lugar da causa como furo, sempre extrínseco à quaisquer redes de causalidade que se possa elaborar, de modo a abordar a dinâmica da vida com relação à localização dos furos no corpo e sua relação com o infinito.
Da clínica psicanalítica da masculinidade
A constante convocação para um trabalho de escrita resultou nestas “Imagens da letra” – montagem de vários textos que tenta demarcar as diferentes vias percorridas, até então, na abordagem dos aspectos diversos que o conceito da letra implica.
Ainda que apenas alguns assinem o presente texto, registre-se aqui a presença de todos que participaram das discussões.
Em tempos de sucesso compulsório é bom lembrar como os analistas são trabalhadores do fracasso.
Quanto mais o ineficaz, o incompreendido e o duvidoso são apagados pelo empreendedor e pelo carismático, mais importa localizarmos o insucesso que dita as coordenadas da experiência analítica.
Montagem corporal a partir de um objeto-resto com o programa “Latinha velha“
Não é porque as pessoas só querem consumir que o mundo está desorientado. O mundo está desorientado e, por isso, as pessoas só querem consumir. Nesse universo sem pai, os objetos são fundamentais. A montagem dos objetos passa a ser fundamental. Mas no imenso mar de objetos descartáveis alguns são diferentes, e eles é que nos interessam. São eles que sustentam a essencialidade da pessoa.
A presença cada vez mais marcante na cidade de uma psicose ordinária
Psicose que é corriqueira, que se apresentaria em sinais discretos, eventualmente imperceptíveis nas situações quotidianas tem nos levado a uma investigação que abarca vários planos.
A pergunta seria: mais de um século desde a Interpretação dos sonhos, ainda se interpretam formações do inconsciente? Para quê? Como?
Adianto minha hipótese: sim. É possível e vale a pena, mesmo com relação aos novos sintomas. No entanto, só posso sustentar essa hipótese, se me apoio em uma definição minimalista e bem geral de interpretação.
Sobre uma neurose de futuro
Resenha do livro Barros, R. (2012). Compulsões e obsessões – uma neurose de futuro.
Este texto aborda a relação da Psicanálise com a Ciência, a partir de uma leitura lacaniana.
Qual é o objeto da psicanálise e que natureza tão particular é essa que não se inclui na ciência standard?
Sobre a aposta pascaliana e o início de uma análise
O artigo tem como objetivo analisar a utilização que Jaques Lacan faz de um ponto específico da obra de Blaise Pascal, relacionado à aposta em um Deus-infinito. Lacan complementa o estudo da aposta pascaliana com uma referência à graça religiosa como momento inaugural de abertura ao infinito.
Quanto um autor é capaz de intervir na leitura de sua obra?
Este texto comenta um dos parágrafos de “Função e Campo da fala e da linguagem na psicanálise”, de Jacques Lacan, na série de textos redigidos pelos psicanalistas da EBP a partir desta obra por ocasião dos cinquenta anos de seus Escritos.
O autor destaca a importância dada por Lacan à presença do analista na cidade, condição exigida para que a singularidade do discurso do analisante possa ser reconhecida pelo analista.
Qual o ponto de parada?
“Algo escolheu em mim” o tema dos limites. Todos dizem hoje que é preciso dar limites. Todos gostariam de possuir a chave para isso. Até sabemos porque é tão difícil: declínio dos ideias etc. O difícil é saber estabelecer um ponto de parada na escalada desmedida do consumo, da adição às drogas, ou simplesmente da falta de educação à mesa.
Primeira abordagem do tema dos limites a partir da mesma situação clínica desenvolvida no texto “Limites”, sem ainda a fundamentação desenvolvida por Lacan em seu Seminário 20.
Este texto trabalha a leitura lacaniana do livro “O arrebatamento de Lol V. Stein” de Marguerite Duras.
Mães de criação
Com Romildo do Rêgo Barros
Sobre mães
Este texto retoma e rearticula passagens dos autores do livro Mães.
Sobre o racismo no Brasil e a psicanálise
Pode o Brasil encontrar um caminho para transformar seu racismo? Que a descolonização precisa ser pensada como um atravessamento dos binários, branco-preto e outros, rumo a outro modo de estar no mundo? Haveria alguma contribuição da psicanálise? Com que gambiarras feitas de nossos restos de identidade poderemos forjar, como propõe J. A. Miller, modos de identificação não segregativas?
Sobre minha trajetória em análise
Este trabalho retoma a trajetória psicanalítica do autor desde sua primeira até sua última análise. É a primeira apresentação após a travessia do Passe. O autor vai desde a infância até os últimos anos de análise. O texto traz uma palavra que foi composta de vários elementos que traduzem o novo valor do gozo após a análise, o termo neológico mordidavida.
Como se articulam o feminino de Freud e de Lacan e as imagens do feminino na cultura?
Consumista, louca, mas também criativa e empreendedora; não nos faltam figuras do que seria tipicamente feminino. Assumimos, porém, com Lacan, que a mulher não existe no sentido de que seu essencial não tem essência, não se insere no campo da representação.
Resenha sobre Patu, a escritura fonética brasileira do pastout de Lacan.
Não é uma tradução que, fundada no sentido, seria nãotodo. Esse quase neologismo de Ana Lúcia vem bem a calhar, porém, quando se trata, como em seu livro, de fisgar o real do nãotodo sem, contudo, fazê-lo consistir demasiadamente. Afinal, o nãotodo lacaniano marca o lugar do sem lugar, sem corpo, mas ainda assim habitado pelo singular.
Sobre as entradas em análise
Para buscar um terreno menos enganoso e não superpor ingenuamente o início de uma análise ao fato de que os encontros começaram Lacan, sabemos, escolheu a expressão “entrada em análise”. Mas quando entramos? Seguindo firme com a ideia de que na análise o que se conta sobre como fomos afetados vale tanto ou mais do que o acontecido, não é difícil perceber como os sentidos emprestados ao analista nos tocam antes mesmo de encontrá-lo pessoalmente.
Sobre o Sinthoma e o final de análise
Qual política está implicada pela experiência psicanalítica tal como ela se apresenta a partir do dispositivo do passe?
Nos testemunhos de minha análise verifico a cada vez como neles se trata sempre da mesma coisa.
Todos buscam transmitir como pude me aproximar de meu sintoma o bastante para vivê-lo como estranheza mais amiga que incômoda. Se digo, “me aproximar” e não “resolver” ou “alterar” é porque, no essencial, o sintoma não muda.
Sobre o “Não sem” na frase “A saúde para todos não sem a loucura de cada um”
O título do V Encontro Americano do Campo Freudiano (ENAPOL): “A saúde para todos não sem a loucura de cada um” propõe uma articulação peculiar entre universal e singular, definida pela expressão “não sem”. Gostaria de explorar o modo de relação que essa expressão introduz.
Lendo Joyce com Lacan
Nessa leitura, descobriremos a arte de viver (e escrever) sem o apoio da crença no Pai, nosso termo para a simples fé estruturante de que alguém em algum lugar poderia explicar o caos desse mundo. E, isso, sem “cair fora” na passagem ao ato, nem dar-lhe as costas para recriá-lo pelo delírio.
Notas sobre o diagnóstico
Apresentação do livro “A transferência no campo da psicose: uma questão.” de Maria Silvia Hanna.
Pequeno flash do momento político da EBP com relação à AMP.
Informe redigido para o Conselho da Associação Mundial de Psicanálise por ocasião dos vinte anos da Escola Brasileira de Psicanálise.
Uma leitura dirigida, passo a passo, da “Nota sobre a criança”, texto fundamental de Jacques Lacan
O presente artigo pretende abordar a relação fundamental entre o “cômico” entendido como a experiência do riso a partir da relação com o semelhante e o chiste.
O riso a partir da manipulação linguageira do registro simbólico (no sentido que lhe atribui J. Lacan). A partir daí, extraem-se algumas consequências clínicas e teóricas dessa relação. Ou seja, trabalharemos o chiste em sua conexão com o inconsciente fazendo-nos entender a lógica do significante que permeia a experiência psicanalítica.
De que modo uma análise contribuiria para sustentar o laço social? Em segundo lugar: supondo-se que haja vários, de qual laço estamos falando?
Na indeterminação absoluta do que virá, sabemos ao menos, com cruel certeza, o que fazíamos de nossas vidas até então, descuidados de nosso desejo.
O sujeito do texto, colhido pela doença no início da epidemia, passa dias em febre e quando se recobra descobre, isolado, um mundo de ruas vazias. Mergulha em uma fantasia desesperada: e se isso durasse para sempre? Essa fantasia, da eternidade do confinamento, revela um dos valores maiores de um verdadeiro acontecimento.
O tema, aqui, não remete a nenhum fim específico, seja o fim da história ou da função paterna, mas apenas à vertigem, tantas vezes presente, de que nenhum de nossos parâmetros cotidianos para ação e orientação parece ainda valer.
Se a diferença entre privado e público se torna porosa, se nossos analisantes não têm mais a mesma relação com a intimidade que nos tempos de Lacan e se qualquer diferencial é tomado como singularidade, como imaginar que poderíamos trabalhar no segredo dos consultórios, buscando uma singularidade quase sagrada?
Sobre o discurso do analista e sua relação com o impossível
Este texto discute o discurso do analista e sua relação com o impossível a partir do que ressoou o testemunho de passe de Tania Abreu.
O acontecimento do corpo que transborda sua imagem
Lacan destaca, mais tardiamente em seu ensino, como uma análise nos leva não apenas ao acontecimento da verdade, mas ao acontecimento de corpo. Este acontecimento convoca um corpo que não é aquele com que nos deitamos e levantamos, mas daquele que transborda sua imagem, essa que encontramos no espelho, às vezes com sustos, mas que nos assegura que somos nós mesmos. Pois bem, uma análise é sempre também a certeza de que somos mais que nós mesmos e que isso conta.
Associação cega, não livre
Numa análise, fala-se às cegas. A proposta talvez seja não exatamente libertar a fala, e sim obter uma novidade no dizer. Com o convite a que se diga o que vem à mente, fazendo de conta isso é possível, provoca-se, na verdade, o dizer outra coisa.
O que o analista tem a oferecer quando falamos de Psicanálise na cidade?
Este texto trabalha com a ideia de Lacan de analista santo. Como alguém que exerce a “descaridade”. “O santo, para que me compreendam, não faz caridade. Antes presta-se a bancar o dejeto: faz descaridade”. Partindo dessa posição do analista, o texto traz inúmeros personagens para jogar com essa concepção. Do lixão ao capitalismo ilimitado, como podemos pensar esse analista santo?
“Os psicólogos, os psicoterapeutas, os psiquiatras, todos os que trabalham em saúde mental, são eles que, na base e na dureza, agüentam toda a miséria do mundo. E o analista, enquanto isso?”
Partiremos desta pergunta lançada por Jacques-Alain Miller a Lacan em “Televisão”. Era uma pergunta provocativa sobre a saúde mental.
Conferência pronunciada na Primeira Vara da Família e Adolescência do Rio de janeiro a convite da equipe do juiz Siro Darlan.
Nada melhor que o termo do Profeta Gentileza: Capetalismo.
Basta acrescentar que em sua versão contemporânea ele absorve todos: as igrejas, os caridosos, os revoltosos e assim por diante. Nas franjas do social o capetalismo se encontra com o lixão de seus restos. Esses, que deserdamos, serão reabsorvidos, sabemos, pelo tráfico. Grande entreposto varejista, máquina acéfala, sem lei, nem mesmo, como gostaríamos de pensar, a de uma máfia cruel, a não ser a livre concorrência em sua versão terceiro mundista radical. Realmente, como dizia Tom Jobim, o Brasil não é para principiantes…
Versão reduzida do texto “O acontecimento do inconsciente”
Colocarei em discussão a fundamentação das classificações psiquiátricas atuais, cotejando-as com o modo psicanalítico de categorização.
Gostaria de abordar a relação entre psicanálise e ciência sob um aspecto particular, evitando a complexidade paralisante desta questão com o uso de um exemplo preciso..
Como podemos pensar diferença entre o corpo implodido e fabricado de hoje do corpo tal como a análise nos leva a considerar?
É que ela nos mostra como nos sustentamos em peças avulsas, como uma colagem surrealista, simultaneamente pedaços de gozo e de linguagem. Aceitar a aposta do inconsciente é assumir a seguinte premissa: o que nos sustenta como Um não é o que o espelho nos devolve. Esta aposta nos abre à profusão de imagens e de fragmentos que gravitam a nosso redor. É sobretudo nela que encontraremos essa sustentação.
Sobre o “efeito poético” a partir do Corvo de Poe.
A poesia realiza o que na interpretação deve-se buscar: suspender as significações imaginárias evitando a armadilha do sentido. Para tentar situar o modo como Lacan circunscreve este efeito poético, examinarei algumas de suas indicações neste seminário utilizando O Corvo de Edgar Allan Poe como ponto de apoio.
Posfácio do livro Mães
Muito do que Romildo formula neste momento conclusivo merece ser retomado para lhe dar a amplitude que merece. Foram escolhidos três pontos. O crocodilo e o pai, o desejo do analista e o relativismo ambiente, o desumano e o preconceito.
Antes de nos perguntarmos se haveria incompatibilidade entre psicanálise e política, que seja colocada a pergunta sobre o modo como ambas encontram dificuldades na grande feira globalizada onde vivemos.
Nossa subjetividade, ao menos na parte em que é articulada à nossa posição de consumidores do mercado globalizado, não tem nem comando, nem unidade o bastante. Ela funciona de outro modo e segundo uma articulação entre o individual, o coletivo e o singular que parece colocar em risco tanto a possibilidade da psicanálise quanto da política.
O título que nos reúne, O empobrecimento da clínica psiquiátrica, é decididamente ousado e politicamente definido. Seria apenas uma constatação? Não. Ele é uma tomada de posição: afirma, indica, critica.
Notas sobre ato, acting out e ato analítico
Como situar o que ocorre após o ato sabendo que sua potência é em parte a da destruição das coordenadas subjetivas anteriores?
Este texto retoma desenvolvimentos de testemunhos anteriores do mesmo autor e resume um longo percurso de análise em três etapas.
A primeira envolvendo o trauma que encontrou seu limite na impossibilidade responder à demanda de reparação da perda traumática. A segunda destacando como, mesmo mantendo-se no campo do trauma e da perda, foi possível encontrar uma satisfação nova. A terceira permitiu abrir-se a um campo de possibilidades fora deste campo, aberta à continência do encontro de maneira até então impossível.
Em que interessa hoje para o psicólogo clínico ou o psicanalista a leitura dos relatos clínicos de Freud?
Para além de uma leitura obrigatória que deve constar em suas estantes, é preciso que algo que suscite sua prática esteja em jogo. Freud situa em seus relatos o que primeiramente é conceituado por Lacan como sujeito, puro furo, ponto onde culminam as linhas mestras de uma vida, o qual delimitaria o ponto extremo de singularidade.
Tentarei demonstrar que psicanálise tem algo a propor diante do mal-estar da civilização.
Propus-me retomar um texto fundador de Freud para um público interessado, mas não necessariamente intimo dos conceitos psicanalíticos. Entretanto, por ser este um caminho radicalmente diferente ele não é facilmente assimilável. Tentarei então situá-lo não somente com ajuda do texto de Freud como também com algumas contribuições de Lacan especialmente a sua concepção de canalhice.
Como dar destino ao real sem passar pelos poderes da representação?
Disso que o romance Edípico é paradigma? Dito ainda de outro modo: pode-se dar lugar estável ao gozo sem referência ao sujeito?
O que chamar de uma política própria à psicanálise?
Como não falar de política? Especialmente quando o Brasil parece ter desvelado seu modo de aliar o pior do neoliberalismo com o compadrio branco colonialista?
Uma das interpretações possíveis de como podemos ser afetados pelo real de nossos dias.
Acredito que a abordagem lacaniana do afeto pode contribuir para situar o que aflige o psicanalista atualmente. Vou apresentar então uma construção, esboçada na conclusão de meu livro, Ética da Paixão.
Relato de um fragmento de passe
Este texto apresenta um testemunho de passe, o relato de um fragmento da análise no autor, em que se visa o ponto em que a análise contou com elementos de linguagem fora do sentido para seu desfecho. Com este fim o autor parte da oposição entre as imagens que se apoiam nos significados compartilhados e naquelas que incluem o que a eles escapa. Destas últimas serão destacadas aquelas relacionadas ao modo de apreensão da relação do autor com seu pai em análise, por outro, as trazidas por um hai-cai de Bashô.
Como dar lugar aos monstros do desejo?
Este artigo resume a teoria lacaniana do objeto “a” como resto da constituição subjetiva, tal como proposto em seus Seminários 10 e 11. No entanto, em lugar de fazê-lo com base nas operações de alienação e separação, introduzidas por Lacan nestes seminários, optamos por trazer a função do objeto-resto a partir da distinção entre moral e ética empreendida em seu Seminário 7.
O chiste e sua relação com as formações do inconsciente
Em seu quinto ano de ensino aberto, ano fundamental em que se articulam inúmeras teses fortes de seu pensamento, Lacan dá a seu seminário o título “As formações do inconsciente”. Este artigo visa introduzir a leitura do seminário a partir da discussão de alguns pontos que configuram seu horizonte e que esboçam algumas de suas portas de entrada
A estrutura e seus exilados
Uma introdução ao Seminário 5 de Jacques Lacan. Nesta segunda parte trata-se da teoria da psicose pela foraclusão do Nome do Pai e da perversão a partir dos “casos” de Gide e de Mishima.
Sobre a trilogia das paixões: amor, ódio e ignorância
Lacan introduz as paixões do ser, amor, ódio e ignorância, para retomar a transferência a partir da sua trilogia RSI e da referência ao papel fundamental do simbólico no tratamento analítico. Parece-me então uma boa porta de entrada para abordar estas paixões a seguinte questão: porquê três paixões fundamentais e não duas? Deve causar alguma surpresa, o fato que a dualidade freudiana seja deslocada para uma trilogia onde a ignorância se situa exatamente no mesmo nível que o par freudiano.
Sobre o sujeito do insconciente e a presença do objeto da psicanálise
O sujeito que opera no discurso psicanalítico é o sujeito advindo como efeito do discurso da ciência, cuja operação de literalização da natureza faz emergir o próprio sujeito, mas como elemento foracluído de sua operação. Quando se trata do real, a linguagem não é capaz de recobri-lo, há sempre um resto, com o qual Lacan escreverá o objeto a, suporte da presença do sujeito no mundo que define a experiência psicanalítica como uma prática que transcende os limites da lógica significante.
A que título o psicanalista teria algo a dizer sobre o trauma?
Ele não costuma estar junto da equipe de assistência, não presta socorro imediato, ao menos não em sua figura tradicional. Seu papel está condicionado à premissa de que há em qualquer trauma um “fator subjetivo” ineliminável. É preciso contar que, independentemente do que terá ocorrido, algo singular precisará entrar sempre em ação para que se possa definir um trauma, já que nem todos os expostos à mesma situação serão traumatizados…
Relação entre os conceitos de real, desejo e letra no ensino de Jacques Lacan.
Como modo de abordar estes conceitos, utiliza-se a análise do autor, da qual algumas passagens são narradas e examinadas a partir do dispositivo institucional criado por Lacan conhecdo como testemunho de passe.
Lacan e a matemática
Lacan utilizou em seu ensino, entre outras disciplinas, a matemática. Para exemplificar esse “suporte inesperado” – o do cálculo –, primeiramente investigamos a natureza dos tijolos básicos dessa disciplina – a palavra e o número – para finalmente fazermos a equivalência entre o sujeito em jogo na psicanálise e o zero.
Posto que o objeto em si é necessariamente invisível, aborda-se a contemporaneidade com a seguinte questão: é possível que o objeto tenha tornado-se visível?
Isso não implicaria na implosão da cena erótica ou em instabilidades radicais na estruturação do imaginário do corpo?
Prefácio do livro Ódio, segregação e gozo.
Uma análise é uma investigação muito especial de si. Ela assume que as ocorrências da vida contam relativamente menos do que o modo como foram vividas. Apostar, assim, em uma causa subjetiva para o sintoma faz o interesse migrar do acontecido para o imaginado. Ganha lugar de destaque o que antes era quase nada: o fantasiado, o vivido por tabela, por ouvir dizer ou ainda por descuido.
A lição VI do Seminário da Orientação Lacaniana, de Jacques-Alain Miller, Peças avulsas, trata essencialmente das relações entre fala e escrita, no que concerne à clínica psicanalítica, sob o prisma do último ensino de Lacan e retoma a discussão implícita entre ele e Derrida.
O que dizem os gestos de uma análise? O que dizem sobre o que é “fazer análise”? Sobre o que é uma análise?
O quotidiano é feito de uma multidão de gestos. Não se trata apenas de apreender o que os condiciona, mas o que dizem de nossa existência no mundo. O que dizem de nós? Nossa a proposta é mergulhar essa interrogação sobre os gestos em uma prática em um campo específico.
Bem-vindos aos paradoxos de uma presença que não é, mas ainda assim é.
É a presença como aquela que sustenta a existência, nos ditos do analisante, não de um indizível, mas sim da possibilidade de um dizer “a mais”. É contraintuitivo, mas assim é nosso trabalho, o de uma presença que se articula “ao que se diz”, como seu não-dito e que, apesar de ser articulada “ao que não se diz”, ainda assim é alguma coisa.
Os princípios introdutórios da formalização de um método de pesquisa clínica em psicanálise que vem sendo desenvolvido e aplicado no Instituto de Psiquiatria – IPUB/UFRJ.
Apóia-se, tal método, em três palavras – pesquisa, psicanálise e universidade – que mais do que definí-lo vêm, na verdade, a funcionar como “chaves” que abrem às questões que de sua formalização e aplicabilidade se depreendem e que nos interessam com rigor examinar.
Palavras praticadas, pés na lama: Hijikata Tatsumi e Jacques Lacan
(Com Thereza de Felice)
Sobre dança, gesto e escrita
O presente artigo propõe uma analogia entre a dança, os gestos e a escrita de Hijikata Tatsumi – artista japonês, criador do butô – e a escrita tal como abordada pelo psicanalista francês Jacques Lacan, especialmente a partir de sua noção de gozo, atrelada a uma abordagem específica da noção de corpo.
Sobre a teorização lacaniana da angústia
e sobretudo a diferença proposta por Lacan entre passagem ao ato e “acting-out” – são, aqui, retomadas para localizar sua importância. Isso, a partir de situações de pânico coletivo na cidade do Rio de Janeiro, de um episódio autobiográfico de Celso Athayde.
(boa parte deste texto compõe o primeiro capítulo de “Restos”).
O texto traz duas ideias que dizem respeito ao recrutamento pelo inconsciente
Termo que costumamos usar, lembrando que o termo de Lacan referido a essa ideia nesse texto, logo na abertura, é triagem.
Método que visa formalizar essa experiência no desafio de sustentar uma clínica psicanalítica e sistematiza-la no âmbito da pesquisa universitária.
Sobre uma política do Sinthoma
Qual política está implicada pela experiência psicanalítica tal como ela se apresenta a partir do dispositivo do passe?
Abordaremos nossa própria visão, muitas vezes turva, sobre a realidade dos hospitais psiquiátricos no Brasil.
A reflexão que segue, poderia, com toda propriedade, tomar emprestado um título de José Saramago e batizar-se Ensaio sobre a cegueira. Ela se escora em um discurso que por vezes ofusca-se pelo ideal, da desospitalização. Visando uma nova realidade, esquece que a clínica muitas vezes é pesada, resistente e lastreia nossas pretensões com a presença maciça da impossibilidade.
Definida a prostituição de modo geral (por exemplo, trocar sexo por algum pagamento, a que título teria o psicanalista algo a dizer?
Uma questão de método
A ciência moderna se caracteriza mais pela matematização do real que por seu trabalho empírico de formulação e teste de hipóteses. Para estabelecer neste texto as bases de um método de pesquisa próprio à psicanálise – prática clínica por definição –, retomaremos essas noções em detalhe, uma vez que elas não indicam de imediato o lugar reservado ao material empírico na concepção de ciência que delimitam.
Psicopatologia lacaniana dos afetos e do humor
(Com Angélica Bastos)
Podem ser os afetos patológicos?
Como traçar fronteiras entre a normalidade a patologia em um campo tão pantanoso como o da afeição humana?
Respostas a cinco perguntas sobre a diferença entre as três para o público de um jornal.
Sobre as relações entre os pequenos grupos psicanalítcos, e o modo de estruturação diverso da IPA (International Psychoanalytical Association) e da AMP (Associação mundial de psicanálise).
Seria possível forjar para si um lugar no Outro que se sustente e que se possa reconhecer mesmo fora do sentido?
Este texto dialoga sobre as possibilidades diante do esvaziamento da ideia de um Outro social estável e da presença cada vez mais marcante de Outras formas de enlace, enganche, amarração, de ça tient.
Resenha do documentário “A loucura entre nós” de Fernanda Vareille.
Este que aposta em uma transmissão sobre o que é a loucura fora drama, do jornal ou da novela, o que é o cotidiano de um hospital psiquiátrico e de seus sujeitos em suas tentativas de inserção em nossas misérias banais
Boas vindas e agradecimento na abertura do V Encontro Americano de Psicanálise de Orientação Lacaniana
Juntamente com Alicia Arenas, Marina Recalde, previamente à fala de abertura de Judith Miller.
Texto sobre a carta de Freud em que ele responde a uma mãe angustiada em relação à homossexualidade de seu filho.
Resenha do livro “Cabeça de porco” de MV Bill e Celso Athayde.
MV Bill afirma que vai “montar um projeto social que providencie sessões de análise nas favelas. Não devemos nos espantar com isso, considerando a amplitude do lugar de Freud na cultura por todo lugar do mundo. Ele deixou sua marca aí. Mas será isso suficiente para dizer que ele está sempre vivo no sentido de Lacan? Hoje, será que não seria assim sobretudo em nome de um desejo normatizado pelo sentido edipiano? Será que é isso que MV Bill conclama?
A trindade infernal de J. Lacan
Lacan inventa sua trilogia, RSI , exatamente para distinguir e ao mesmo tempo articular essa multiplicidade de base. São três categorias, ou três aspectos, três registros da experiência como prefere descrever. Dizendo rapidamente, há o que há (R), o que se pode representar disso (I) e, nisso, suas marcas, seus traços invariantes (S) – real, simbólico e imaginário, ou ainda, da experiência analítica, sua espessura, sua estrutura e sua textura.
Delimita-se a leitura, emprendida por Jacques Lacan, do conceito freudiano de realidade psíquica, com ênfase na radicalidade do desamparo humano na teoria psicanalítica assim como de sua dimensão funcional na experiência de uma análise.
Com base no desamparo, propõe-se a realidade como subjetivação da dimensão significante e da pulsão como resto operatório da dimensão simbólica.
Seguem algumas reflexões sobre o tema da tradução.
Parto de uma questão específica, mas proponho uma discussão mais ampla. Creio que uma aproximação entre tradução e interpretação pode nos ajudar quando lançamos uma discussão sobre a relação entre os corpos e os discursos, tal como propõem tanto Lacan em seu Seminário 19 quanto o título de nosso próximo Encontro Brasileiro do Campo Freudiano: “Os corpos aprisionados pelo discurso …e seus restos”.
Invertem-se os dados: em vez de “O pai é a origem”, teremos “O que for, para um sujeito, a origem será o pai”
Lacan liberta o pai freudiano da situação concreta, familiar, em que aparentemente estava localizado. Isso tanto responde aos que perguntariam “mas e quando não houver pai?” como deixa claro o quanto função e pessoa devem ser distinguidas em uma análise.
De que rimos?
Humor é coisa grande. Neste universo quase sem fim, Lacan, em seu quinto seminário, entra cortando: uma coisa é o cômico, outra é o chiste.
Entrevista com Paula Pimenta sobre a relação entre o tema “A saúde para todos não sem a loucura de cada um”.
Efatiza o singular dentro do universal, com o tema “A saúde mental existe?“, que questiona a universalidade de uma proposição.
Discurso de apresentação na assembleia geral da Escola da Orientação Lacaniana de Buenos Aires por ocasião do desempenho das funções de diretor-geral da Escola Brasileira de Psicanálise.
Schreber e a escrita
(com Bruna Guaraná)
A partir do paradigmático caso freudiano, baseado no livro de Schreber, o artigo destaca a importância, para o autor, da redação e sobretudo a posterior publicação do seu livro autobiográfico Memórias de um Doente dos Nervos (1905/1984).
Apresenção do X Congresso da Associação Mundial de Psicanálise, em que foi abordado o inconsciente a partir da expressão O corpo falante.
Passagens da análise do autor são retoadas para propor que o falo mantém seu papel de negativação, no entanto não mais atrelado ao sentidos e valores da constelação familiar edípica.
O texto resume o modo como Lacan define a função fálica, associada a seu conceito de Nome-do-Pai, para interrogar o objeto fálico em uma análise para além de sua função de negativação do gozo no modo peculiar que é definido pelo Édipo freudiano.
O que a psicanálise pode propor como uma “Política do sintoma”?
A abordagem dos sintomas a partir da psicanálise podem ser a de gozos que se articulam a um espaço de abertura na rede de acontecimentos de uma vida. Sem mais uma estrutura clara e uma chave única para o saber por meio do pai, os gozos vão se produzindo localmente, como numa galáxia que cresce e se expande mais como fractal do que como flecha. Os sintomas, aquilo que passamos a chamar de transtorno, deixam de ser um mal e passam a ser um modo de viver.
A relação sexual não existe.
No próprio momento em que o admitimos, porém, nasce o estranhamento, por conta da aparente radicalização a que nos convida Lacan. Estamos prontos a aceitar que o sexo humano seja muito pouco rígido. É mais difícil aceitar que não exista nenhuma orientação natural do homem em direção à mulher e vice-versa. Não tem a ciência, inclusive, fornecido provas do contrário? Não estamos sempre às voltas com notícias de que o amor é determinado, por traços genético-humorais, como na passagem abaixo?
Sobre a teoria do signficante de Lacan
Classicamente, uma teoria do signo é uma teoria da representação. Um signo é um “perceptível” que responde por um “imperceptível”, o primeiro representa o segundo. A essa função do signo acopla-se uma teoria da significação: o significado de um signo é a coisa que ele representa.
Proposições lacanianas sobre o objeto a que me pareceram premissas essenciais para abordagem da voz – sua apresentação de mais difícil apreensão e a menos explicitamente delimitada
Várias são as ferramentas conceituais exploradas por Lacan para lidar com este real fisgado pelo significante. Uma delas é assumir que ele pode se apresentar em meio ao material inconsciente como um objeto. Neste caso, será um objeto muito especial, o objeto “a”. É o que tentarei a seguir, a partir de minha análise, atravessada de ponta a ponta pela manifestação da presença do Outro como voz.
De um lado o par “sintoma” e “delírio”, do outro, “saúde para todos” e “loucura de cada um”.
Abordando esses pares a partir da oposição entre singular e universal, vemos que há uma inversão. O sintoma, como lugar de um gozo singular se opõe, no primeiro caso, ao delírio, enquanto que é a loucura como o singular de cada um que será nossa aposta com relação ao universal da “saúde para todos”. O que muda?
Comunicação na mesa-redonda “Apresentação de pacientes”, nas XIIIas Jornadas Clínicas da EBP-Rio.
O binarismo precisa do falo para se manter?
As diferenças, os pares de opostos da linguagem é difícil imaginar que se pode estar na cultura, em um laço social com o mínimo de coesão e coerência se a gente não tem de vez em quando isso, esse: “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. Essa é a questão, a situação que a gente está encontrando.
Este texto faz parte de uma série de artigos que tratam de leituras do Seminário 19 de J. Lacan.
O que sobrevive? O que luta. E quantos mais na luta, melhor. Mas cabe a pergunta: haveria outros modos de resistência, que sejam de sobrevivência, mas não apenas os de luta?
Para os psicanalistas, é fundamental desdobrar a pergunta em: a psicanálise teria alguma contribuição nesse debate?
Haveria algo a dizer das ocupações do ponto de vista do psicanalista?
Notas de psicanálise, sexo e política.
Partes um e dois.
O que é falocentrismo? O que é falo? E porque falam em queda do patriarcado e do falocentrismo se por todo lado só há mais e mais gente falando grosso? A psicanálise é falocêntrica? Freud sim, Lacan não? Porque os psicanalistas são quase sempre de classe-média-branca-no-poder?
Vamos nos voltar, aqui, para as indicações de Lacan quanto ao que J. A. Miller, de modo espirituoso, chamou de estatuto japonês do sujeito.
A possibilidade de um regime discursivo não fundado na profundidade conferida pela premissa fálica sempre levou os analistas a percorrer situações em que haveria uma dificuldade manifesta na instituição da suposição de saber, intrinsecamente solidária à profundidade do eu e essencial para a entrada em análise. Psicose, toxicomanias, psicanálise em crianças são marcos nessa exploração essencial.
Pensar o parceiro-sintoma é um convite a examinar as referências de Lacan no que concerne a passagem de ‘só se goza através do falo’ a ‘só se goza com o sintoma’
O tema do texto desloca-se no horizonte do real do sintoma, não mais tido unicamente como mensagem a ser decifrada.
Subversões do gênero: Butler, Preciado, Lacan
Com Clarice Arantes
Ao abordar a teoria da sexuação de Lacan e alguns aspectos da teoria queer, buscamos corroborar com a ideia de que a tensão entre tais campos é extremamente fértil
Este artigo visa refletir sobre diferentes estratégias teóricas que cumprem o objetivo de desestabilizar a compreensão de gênero como algo fixo e estável, referido a um sistema binário.
Supereu: a voz de um imperativo interrompido
com Geisa Assis
Sobre o Supereu e o objeto voz
O objetivo deste trabalho é estudar o supereu, percorrendo os caminhos que nos levam a ele como voz de um imperativo interrompido. Buscamos demonstrar que o supereu não está referido às identificações que norteiam o sujeito, mas sim a comandos desnorteadores.
Sobre o que Lacan chamou de letra.
A presença do Outro pôde ser pressentida não mais a partir do que Lacan denomina fantasia, seu nome para o roteiro de base do teatro pessoal que carregamos conosco. Ele é tecido pelas marcas deixadas pelos encontros que nos constituiram. Nas cenas fundamentais que vão se depositando e que traduzem o que fizemos com o que o Outro fez conosco há algo que pode ser isolado, sempre igual a si mesmo independente dos contextos.
O efeito do que Lacan chamou de pulsão invocante é uma experiência de certeza. Somos intimados, mesmo que não se saiba bem por quem nem para quê. Foi com relação a essa exigência cega e sem corpo que a análise permitiu uma modulação, uma pequena separação que mudou minha história.
Uma consequência de nossa premissa poderia ser a de que só haveria real a partir do imaginário. É a tônica de hoje.
Se não há relação sexual e se as aparências não só enganam, pode-se acreditar que só há caminho para o real a partir delas.
Resenha do filme “Ou tudo ou nada” de Peter Cattaneo em articulação com o tema do falocentrismo.
Teria, um psicanalista, algo a dizer para além de sua posição identitária, geralmente a dos brancos, classe média ou classe média alta?
Destaco alguns dos argumentos, pois creio que eles podem ajudar a delimitar o que seria uma contribuição propriamente psicanalítica ao debate.
O título que nos reúne desafia a localizar o que justifica a interpretação psicanalítica em nossos dias.
Parto do que me parece mais seguro: nossa interpretação não tem como objetivo produzir sentido, mesmo se o produz. Se inscreve na perspectiva do real. A interpretação, diz Lacan, visa o gozo.
Vamos examinar um encontro memorável de Lacan com alguns médicos afim de abordar o modo como o psicanalista lida com o saber no campo da saúde mental.
Estabilização, sinthoma e invenção
Apresenta-se o livro de Temple Grandin e dele são examinadas algumas teses especificamente relacionadas à estabilização obtida pela autora com base em um uso peculiar do brete (máquina para imobilização de gado). O artigo aproxima, a seguir, este uso da teorização lacaniana do “sinthoma”, com base comentário de J. A. Miller deste conceito e de suas relações com o que a cultura denomina “invenção”.
Lacan funda uma instituição de analistas em que não se sabe dizer o que é um analista.
Dois textos, sobretudo, balizam e delimitam a proposta, chamada por Lacan Escola: o “Ato de fundação” e a “Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola”. Proponho, aqui, abordar o primeiro destes dois textos. Em apenas três páginas, tudo em um plano mais prático, Lacan traz indicações essenciais para delimitar a proposta de uma Escola no sentido que dá ao termo, assim como, especialmente, o que espera dos membros dessa comunidade.
Sobre a resposta de Freud ao ministro
Freud recebe um ministro do governo que lhe diz: quero fazer análise, mas infelizmente há muita coisa que não posso contar por serem segredos de estado, envolvendo o interesse da nação.
“a constância própria do que podemos encontrar na experiência analítica é exatamente a contingência de que o real se inscreva.”
Quero apresentar a vocês o ponto em que essa orientação me parece vital hoje. Retomo, então, o momento em que Miller define o que é a orientação lacaniana, em “O Outro que não existe e seus comitês de ética”.
Esse texto retoma parte do curso: A política do sintoma.
O Orkut e o Facebook como paradigmas da customização sintomática de nossos tempos: a cada um seus modos de gozo (seu sintoma).
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